Doing Business in Brazil

5. Governança corporativa no cenário brasileiro

19/11/25

A Governança Corporativa no Brasil avançou de forma expressiva nas últimas décadas, acompanhando a maior integração do país à economia global e o aumento das exigências internacionais por transparência, integridade e responsabilidade na administração das empresas. Para investidores estrangeiros, compreender essa estrutura é fundamental para avaliar riscos, assegurar conformidade e identificar oportunidades.

1. Visão Geral

Governança Corporativa no Brasil refere-se ao sistema que orienta, monitora e incentiva empresas, envolvendo sócios, administradores, conselhos, órgãos de fiscalização e demais stakeholders. Seu objetivo central é preservar e gerar valor de longo prazo, reduzir riscos e garantir padrões éticos elevados.

O tema ganhou força no país a partir dos anos 1990, especialmente com a criação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), cuja atuação segue referências internacionais como os princípios da OCDE e do G20.

2. Princípios Fundamentais

O modelo brasileiro se baseia em quatro princípios amplamente reconhecidos pelo mercado global:

  • Transparência – Divulgação tempestiva e completa de informações relevantes.
  • Equidade – Tratamento justo e isonômico, especialmente para acionistas minoritários.
  • Responsabilidade Corporativa – Integração de fatores ambientais, sociais e de sustentabilidade.
  • Prestação de Contas (Accountability) – Responsabilidade dos administradores por decisões e resultados.

Esses pilares hoje se estendem além da gestão societária, influenciando áreas como riscos, compliance, tecnologia e canais de ética.

3. Estrutura Regulatória Brasileira

O Brasil possui um arcabouço jurídico sólido, composto principalmente por:

  • Lei das S.A. (Lei nº 6.404/1976) – Estabelece direitos dos acionistas, regras de transparência e obrigações de divulgação.
  • Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – Regula o mercado de capitais, assegurando a proteção ao investidor e padrões elevados de governança.
  • IBGC – Principal referência nacional de boas práticas e códigos de governança.

O aperfeiçoamento do marco regulatório — em especial o fortalecimento da CVM, a atualização da Lei das S.A. e a adoção de padrões internacionais como a ISO 37000 — oferece maior previsibilidade e proteção ao capital.

Para investidores estrangeiros, isso significa redução de riscos legais, maior confiança no cumprimento de obrigações de disclosure e um ambiente propício à avaliação precisa de ativos.

4. Estrutura de Governança nas Empresas

Para garantir freios e contrapesos adequados, é comum que organizações mantenham:

  • Assembleia Geral
  • Conselho de Administração
  • Conselho Fiscal
  • Diretoria Executiva
  • Comitês de assessoramento (Auditoria, Riscos, Pessoas, Sustentabilidade etc.)
  • Secretaria de Governança

Essa arquitetura assegura decisões mais independentes, controles mais rigorosos e maior transparência.

5. Governança e Planejamento Estratégico

As empresas brasileiras vêm adotando modelos que incluem:

  • Avaliação de riscos integrada
  • Mapeamento de lacunas de governança
  • Métricas quantitativas e análises qualitativas
  • Criação de agendas de governança de curto, médio e longo prazo

Tais práticas reforçam a sustentabilidade, a eficiência e a credibilidade corporativa.

6. Iniciativas Relevantes do IBGC

A agenda atual de boas práticas inclui temas prioritários como:

  • Ética e integridade
  • Diversidade e inclusão
  • Impactos ambientais e sociais
  • Inovação
  • Transparência e diálogo com stakeholders
  • Conselhos mais diversos e preparados para transformação digital

A diversificação e o fortalecimento dos Conselhos de Administração — impulsionados pelo IBGC e por pressões de investidores — geram:

  • Processos decisórios mais técnicos e imparciais;
  • Estratégias corporativas mais sólidas;
  • Maior resiliência em momentos de instabilidade.

Para investidores estrangeiros, isso representa melhor governança estratégica, com impacto direto na valorização de longo prazo.

7. Normas Internacionais Aplicáveis (ABNT ISO 37000:2022)

O Brasil adota padrões globais de governança que reforçam:

  • Propósito organizacional
  • Criação sustentável de valor
  • Supervisão efetiva
  • Engajamento das partes interessadas
  • Gestão de riscos
  • Responsabilidade social e visão de longo prazo.

8. Segmentos de Governança na B3

A Bolsa brasileira oferece segmentos especiais que exigem práticas superiores:

  • Novo Mercado
  • Nível 1
  • Nível 2

A adesão crescente de companhias brasileiras aos segmentos diferenciados da B3 indica maior maturidade de governança. Essas empresas apresentam:

  • Conselhos mais independentes;
  • Elevados padrões de transparência;
  • Mecanismos robustos de controles internos e compliance;
  • Proteção reforçada a acionistas minoritários.

Esse movimento amplia as oportunidades de investimentos em empresas com governança comparável a mercados desenvolvidos.

9. Avanço da Agenda ESG

O Brasil possui vantagens competitivas naturais e regulatórias no campo ESG, especialmente nas áreas ambiental e social. O amadurecimento de práticas de responsabilidade corporativa gera oportunidades em:

  • Energias renováveis;
  • Agronegócio sustentável;
  • Infraestrutura de baixo impacto;
  • Tecnologia limpa;
  • Projetos de biodiversidade e créditos de carbono.

Investidores estrangeiros que priorizam ESG encontram no Brasil um mercado amplo, em transformação e com crescente demanda por capital verde.

10. Maturidade em Gestão de Riscos e Compliance

A integração cada vez maior entre Governança, Gestão de Riscos e Compliance fortalece a confiança no ambiente corporativo brasileiro. Essa estrutura reduz riscos de:

  • Fraudes e corrupção,
  • Inconsistências contábeis,
  • Instabilidades operacionais.

Com empresas adotando controles mais rigorosos e sistemas de integridade, abre-se espaço para investimentos mais arrojados e para o ingresso de fundos institucionais com requisitos elevados de conformidade.

11. Tendências e Oportunidades

a) Expansão de Setores Estratégicos

O ambiente de governança cria condições favoráveis para investimentos em setores que exigem alto grau de compliance, como:

  • Mercado de capitais;
  • Bancos e fintechs;
  • Infraestrutura e logística;
  • Energia;
  • Saúde;
  • Tecnologia e inovação.

Esses setores, historicamente sujeitos a rigor regulatório, tornam-se ainda mais atrativos com o aumento da transparência e da segurança institucional.

b) Crescimento do Mercado de Capitais

A evolução da governança impulsiona:

  • Aberturas de capital (IPOs);
  • Emissões de dívidas;
  • Expansão de fundos de investimento e private equity;
  • Desenvolvimento do mercado de capitais local.

Para investidores estrangeiros, isso amplia a disponibilidade de ativos, diversifica opções de portfólio e amplia canais de entrada no mercado brasileiro.

c) Ambiente Favorável para Parcerias Estratégicas e M&A

Com empresas mais estruturadas em governança, cresce a possibilidade de:

  • Joint ventures com maior segurança;
  • Operações de fusões e aquisições mais transparentes;
  • Due diligence mais clara e baseada em dados confiáveis.

Isso reduz assimetrias de informação e facilita operações cross-border.

d) Potencial de Valorização em Mercados Emergentes

O Brasil, como maior economia da América Latina, combina:

  • Amplo mercado consumidor;
  • Estabilidade institucional crescente;
  • Políticas de governança em linha com padrões internacionais.

O investidor estrangeiro encontra um ambiente emergente com potencial de valorização acima da média, mas com riscos mitigados por estruturas modernas de governança.

12. Considerações Finais

A Governança Corporativa consolidou-se como um dos pilares essenciais para o fortalecimento do ambiente de negócios no Brasil. Nas últimas décadas, avanços significativos no marco regulatório, na atuação de órgãos supervisores e na adoção de práticas alinhadas a padrões internacionais elevaram o nível de transparência, integridade e eficiência das organizações brasileiras.

A crescente profissionalização dos Conselhos de Administração, a integração entre governança, riscos e compliance, e a ampliação da agenda ESG demonstram que o país está em um processo contínuo de amadurecimento institucional. Esses elementos reduzem assimetrias de informação, mitigam riscos e ampliam a confiança de investidores, nacionais e estrangeiros, na capacidade das empresas de gerar valor sustentável no longo prazo.

Embora desafios permaneçam — especialmente no que se refere à consolidação de culturas organizacionais éticas e à estabilidade política e econômica — o Brasil apresenta hoje um ambiente corporativo mais moderno, previsível e competitivo. Nesse contexto, a governança deixa de ser apenas um requisito regulatório e passa a ser um diferencial estratégico.

Assim, o fortalecimento contínuo das práticas de governança corporativa tende a posicionar o país em patamar cada vez mais favorável no cenário global, ampliando oportunidades de investimento e contribuindo para o desenvolvimento econômico sustentável.


Autora: Renata Assalim Fernandes Souza
Head das Áreas de Contratos, Compliance e Propriedade Intelectual do escritório De Vivo, Castro, Cunha e Whitaker Advogados.

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