Brasil em perspectiva
O Brasil é a maior economia da América do Sul e da América Latina e está entre as dez maiores economias do planeta – em 2023, ocupava a nona posição, com um PIB de US$ 2,17 trilhões. Com uma extensão territorial de 8,51 milhões de km2, representa cerca de 48% do território da América do Sul. E com uma população de 203 milhões de habitantes, ocupa o sexto lugar entre os países mais populosos do mundo, representando um importante mercado consumidor.
O ambiente econômico tem apresentado transformações não desprezíveis desde os anos 1990. Reformas importantes foram implantadas entre os anos 1990 e 2000, com destaque para a estabilização econômica a partir do Plano Real e das metas de inflação, regime de câmbio flutuante, lei de responsabilidade fiscal, e privatizações e concessões de serviços públicos, dentre outros, contribuindo para o aumento da produtividade do país e de seu potencial de crescimento.
Desde 2016, uma nova e revigorada rodada de reformas estruturais está em curso, desta vez, focada em duas frentes principais: 1) melhorar o ambiente de negócios; e 2) melhorar a alocação dos recursos públicos. Houve avanço importante, com destaque para os seguintes temas:
Tabela 1 – Algumas das reformas estruturais aprovadas desde 2016 e em trâmite:
Alocação de recursos | Coordenação e Cooperação |
Atualização das Regras Fiscais | Lei de Liberdade Econômica |
Reforma Trabalhista e Previdenciária | Acordos Comerciais |
Atualização das Normas Cambiais | Nova Lei de Recuperação Judicial e de Falências |
Autonomia do Banco Central | Lei de Garantias e Securitização |
Open Banking, PIX e Moeda digital (DREX) | Lei Geral das Agências Reguladoras |
Reforma Tributária | Marco Regulatório da Banda Larga Fixa |
Nova Lei de Licitações | Novo Marco Legal do Saneamento Básico |
Lei das Estatais | Novo Marco Legal das Ferrovias |
Substituição da TJLP pela TLP | Marco Legal das Startups |
Fonte: Governo Federal, Congresso Nacional e veículos de imprensa.
Além das reformas, tem acontecido um movimento de inovação, como o PIX, a moeda digital do Banco Central (DREX), e o Open Finance, dentre outros, adicionando oportunidades para redução no custo de transação. Esse conjunto de iniciativas contribui para diminuir o Custo Brasil e aumentar o potencial de crescimento econômico.
Algumas estimativas preliminares sugerem que o potencial de crescimento econômico de médio prazo tenha crescido em cerca de 1,0 ponto percentual em relação ao crescimento médio observado entre 2017 e 2019 (1,4%), como resultado das reformas estruturais e das oportunidades relacionadas à energia renovável e ao setor de petróleo e gás.
O Banco Mundial, em seu panorama de 2025, estima que o crescimento se estabilize em cerca de 2,3% ao ano no médio prazo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) indica um potencial de crescimento médio de 2,5%, ligeiramente acima dos níveis anteriores publicados.
A conjuntura econômica de curto prazo
A economia brasileira tem surpreendido pela sua resiliência desde 2021. A taxa média de crescimento do PIB foi de 3,6% no quadriênio 2021-2024. Destacam-se as taxas médias de crescimento dos segmentos agropecuário (2,7%), eletricidade, gás e saneamento (5,3%), construção (5,8%), transporte e armazenagem (4,7%), informação e comunicação (7,0%) e outras atividades de serviços (7,2%).
O desempenho positivo indica que o “boom” econômico do período foi liderado pela expansão da oferta, viabilizada pelas reformas econômicas implantadas nos anos anteriores. Ao analisar os segmentos sob a ótica da demanda, para o mesmo quadriênio, o destaque está nas taxas médias de crescimento das importações (6,8%), exportações (5,5%) e formação bruta de capital fixo (4,4%), o consumo privado (3,7%) reflete o aumento do salário real nos últimos aos, enquanto a dinâmica do governo (3,0%) ficou abaixo do PIB.
O crescimento das exportações e das importações reflete a maior abertura da economia – em dez anos, a corrente de comércio do país (exportações mais importações) passou de 24,7% do PIB em 2014 para 35,5% do PIB em 2024, como resultado dos acordos comerciais assinados entre 2016 e 2022, além do avanço do país como importante participante mundial na oferta de grãos, de minério de ferro e de petróleo e gás.
A solidez da economia associada à atualização da legislação trabalhista tem resultado na diminuição da taxa de desemprego, que saiu de 14,9% no 1º trimestre de 2021 (maior nível da série histórica, refletindo a pandemia mundial da covid-19) para 6,2% no final do 4º trimestre de 2024 (a menor taxa da série histórica). A população ocupada acima de 104 milhões de pessoas e a recuperação no rendimento real individual tem resultado em uma massa de rendimento real no maior nível da série histórica, em torno de R$ 341 bilhões.
A despeito do forte crescimento econômico, a inflação dos preços ao consumidor tem desacelerado, após a forte alta no biênio 2021-2022, em função do choque de oferta causado pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia. A variação em 12 meses do IPCA diminuiu de 12,13% em abril de 2022 para 4,71% em dezembro de 2024. A variação em 12 meses do IGP-M saiu de 37,04% em maio de 2021 para 6,53% em dezembro de 2024, com 14 meses seguidos de deflação entre abril de 2023 a maio de 2024. Essa desinflação possibilitou o ciclo de redução da taxa Selic, que subiu até 13,65% em julho de 2023, reduzida a 10,40% em agosto de 2024.
As tensões geopolíticas contribuíram para interromper a trajetória de queda da Selic. Preço das commodities retomaram patamares pré-pandemia, porém, a expectativa sobre os desdobramentos dos conflitos regionais aumentou a preocupação da autoridade monetária. Além disso, em 2024, as duas maiores economias do planeta têm apresentado comportamento divergente. De um lado, a resiliência da economia americana, com o mercado de trabalho melhor do que o esperado, tem postergado o início do ciclo de queda da taxa de juros, e mantendo o dólar valorizado frente às principais moedas. De outro, a fraqueza da economia chinesa tem efeito negativo sobre o preço do minério de ferro, sugerindo potencial redução do superávit comercial. Ambos os efeitos são na direção de depreciação do Real.
Internamente, a ausência de consenso político para encontrar uma solução para trajetória da dívida pública agravou as incertezas domésticas e contribuiu com a depreciação do real. O impasse resultou na Emenda de Transição — que ampliou as despesas obrigatórias — e na substituição do Teto de Gastos pelo Novo Arcabouço Fiscal. Nesse contexto, a necessidade líquida de financiamento do governo central saltou de R$ 213,45 bilhões em 2021 para R$ 285,46 bilhões em 2024, um avanço de 33,7 % em apenas quatro anos.
Em abril de 2024, o governo anunciou a alteração na meta para o resultado primário de 2025, que passou de superávit de 0,5% do PIB para 0% do PIB, gerando apreensão quanto ao comprometimento do governo empreender esforço para evitar uma escalada no endividamento público. A desvalorização do Real em 2024 foi de 25,1%, e a moeda brasileira foi a mais desvalorizada no ano entre as economias do G20. O Real demasiadamente desvalorizado tem aumentado a percepção de que o Banco Central poderá elevar a taxa Selic para evitar que a inflação volte a subir.
Os desafios no horizonte
As reformas estruturais implantadas entre 2016 e 2022 estabeleceram condições favoráveis ao crescimento econômico de médio prazo, que tende a oscilar em torno de 2,5% ao ano. No entanto, há alguns desafios a serem vencidos no curto prazo, para que esta perspectiva não seja comprometida.
O maior desafio se concentra na regulamentação e na implantação da reforma tributária, aprovada em 2023, em meio à necessidade de revisão dos critérios para elaboração do orçamento público. O eventual fracasso pode culminar em uma carga tributária maior do que a capacidade de absorção pelos contribuintes ou em uma escalada no endividamento público – em ambos os casos, deslocando recursos do setor privado para o setor público e comprometendo a capacidade de crescimento sustentável do país.
Em 2025, a guerra tarifária apresenta um desafio ambivalente para a economia brasileira. Por um lado, as tarifas impostas podem levar a uma retração do PIB, com perdas significativas em setores-chave como máquinas agrícolas e aeronaves, além de gerar volatilidade cambial e pressão inflacionária, tornando a economia mais vulnerável e impactando diretamente o consumidor. Contudo, esse cenário desafiador também pode criar oportunidades, a redução da competitividade de produtos de países taxados pode favorecer as exportações brasileiras, e a busca por novas cadeias de suprimentos por grandes economias, pode redirecionar o comércio para o Brasil. Além disso, a situação pode impulsionar a busca por novos acordos comerciais e fortalecer a aposta no mercado interno, diversificando as fontes de crescimento do país em um ambiente global cada vez mais protecionista.
Autor: Matheus Lazzari Nicola
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