Doing Business in Brazil

1.1. Destaques do Brasil

28/08/24

Brasil em perspectiva

O Brasil é a maior economia da América do Sul e da América Latina e está entre as dez maiores economias do planeta – em 2023, ocupava a nona posição, com um PIB de US$ 2,17 trilhões. Com uma extensão territorial de 8,51 milhões de km2, representa cerca de 48% do território da América do Sul. E com uma população de 203 milhões de habitantes, ocupa o sexto lugar entre os países mais populosos do mundo, representando um importante mercado consumidor.

O ambiente econômico tem apresentado transformações não desprezíveis desde os anos 1990. Reformas importantes foram implantadas entre os anos 1990 e 2000, com destaque para a estabilização econômica a partir do Plano Real e das metas de inflação, regime de câmbio flutuante, lei de responsabilidade fiscal, e privatizações e concessões de serviços públicos, dentre outros, contribuindo para o aumento da produtividade do país e de seu potencial de crescimento.

Desde 2016, uma nova e revigorada rodada de reformas estruturais está em curso, desta vez, focada em duas frentes principais: 1) melhorar o ambiente de negócios; e 2) melhorar a alocação dos recursos públicos. Houve avanço importante, com destaque para os seguintes temas:

Tabela 1 – Algumas das reformas estruturais aprovadas desde 2016 e em trâmite:

Ambiente Macroeconômico e Setor Público Ambiente de Negócios
Atualização das Regras Fiscais Lei de Liberdade Econômica
Reforma Trabalhista Lei do Distrato
Atualização das Normas Cambiais Nova Lei de Recuperação Judicial e de Falências
Autonomia do Banco Central Lei de Garantias e Securitização
Reforma Tributária Cadastro Positivo
Acordos Comerciais PIX
Nova Lei de Licitações Novo Marco Legal do Saneamento Básico
Lei das Estatais Novo Marco Legal das Ferrovias
Substituição da TJLP pela TLP Marco Legal da Navegação de Cabotagem

Fonte: Governo Federal, Congresso Nacional e veículos de imprensa.

 

Além das reformas, tem acontecido um movimento de inovação, como o PIX, a moeda digital do Banco Central (DREX), e o Open Finance, dentre outros, adicionando oportunidades para redução no custo de transação. Esse conjunto de iniciativas contribui para diminuir o Custo Brasil e aumentar o potencial de crescimento econômico. Algumas estimativas preliminares sugerem que o potencial de crescimento econômico de médio prazo tenha crescido em cerca de 1,0 ponto percentual em relação ao crescimento médio observado entre 2017 e 2019 (1,4%). Em julho de 2024, o FMI publicou o relatório “Article IV Consultation with Brazil”, com uma revisão para cima na projeção para a taxa de crescimento econômico potencial de médio prazo, de 2,0% estimado anteriormente para 2,5%, como resultado das reformas estruturais e das oportunidades relacionadas à energia renovável e ao setor de petróleo e gás.

A conjuntura econômica de curto prazo

A economia brasileira tem surpreendido pela sua resiliência desde 2021. A taxa média de crescimento do PIB foi de 3,6% no triênio 2021-2023. Destacam-se as taxas médias de crescimento dos segmentos agropecuário (4,7%), eletricidade, gás e saneamento (6,2%), construção (6,3%), informação e comunicação (7,2%) e outras atividades de serviços (7,7%).

O desempenho positivo indica que o “boom” econômico do período foi liderado pela expansão da oferta, viabilizada pelas reformas econômicas implantadas nos anos anteriores. Ao analisar os segmentos sob a ótica da demanda, o destaque é a taxa média de crescimento das exportações (6,4%), enquanto a dinâmica do consumo privado (3,4%) e do governo (2,7%) ficou abaixo do PIB.

O crescimento das exportações e das importações (4,5%, em média, no triênio 2021-2023) reflete a maior abertura da economia – em dez anos, a corrente de comércio do país (exportações mais importações) passou de 19,2% do PIB em 2013 para 26,7% do PIB em 2023, como resultado dos acordos comerciais assinados entre 2016 e 2022, além do avanço do país como importante participante mundial na oferta de grãos, de minério de ferro e de petróleo e gás.

A solidez da economia associada à atualização da legislação trabalhista tem resultado na diminuição da taxa de desemprego, que saiu de 14,9% no 1º trimestre de 2021 (maior nível da série histórica, refletindo a pandemia mundial da covid-19) para 6,9% no 2º trimestre de 2024 (pouco acima da taxa de 6,3%, a menor da série, no 4º trimestre de 2013). A população ocupada acima de 101 milhões de pessoas e a recuperação no rendimento real individual tem resultado em uma massa de rendimento real no maior nível da série histórica, em torno de R$ 321 bilhões.

A despeito do forte crescimento econômico, a inflação dos preços ao consumidor tem desacelerado, após a forte alta no biênio 2021-2022, em função do choque de oferta causado pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia. A variação em 12 meses do IPCA diminuiu de 12,13% em abril de 2022 para 4,23% em junho de 2024, retomando o intervalo da meta de inflação (entre 1,5% e 4,5%). A variação em 12 meses do IGP-M saiu de 37,04% em maio de 2021 para 2,45% em junho de 2024, com uma deflação de -7,72% em julho de 2023. Essa desinflação possibilitou o ciclo de redução da taxa Selic, que subiu de 2,00% em fevereiro de 2021 para 13,75% em agosto de 2022, permanecendo nesse patamar por 12 meses, e foi reduzida a 10,50% em maio de 2024.

No curto prazo, a desinflação adicional tem enfrentado resistência. De um lado, os preços internacionais do petróleo situam-se em torno de US$ 80 por barril, em decorrência da escalada nas tensões geopolíticas. Além disso, as duas maiores economias do planeta têm apresentado comportamento divergente. De um lado, a resiliência da economia americana, com o mercado de trabalho melhor do que o esperado, tem postergado o início do ciclo de queda da taxa de juros, e mantendo o dólar valorizado frente às principais moedas. De outro, a fraqueza da economia chinesa tem efeito negativo sobre o preço do minério de ferro, sugerindo potencial redução do superávit comercial. Ambos os efeitos são na direção de depreciação do Real.

As incertezas locais têm adicionado pressão sobre a tendência de depreciação da moeda brasileira. As despesas do governo central, no acumulado em 12 meses, saltaram de 18,0% do PIB em dezembro de 2022 para 20,4% do PIB em junho de 2024, em meio à aprovação da Emenda de Transição (que elevou as despesas obrigatórias) e a alteração nas regras fiscais, com a substituição da lei do Teto dos Gastos pelo Novo Arcabouço Fiscal.

Em abril de 2024, o governo anunciou a alteração na meta para o resultado primário de 2025, que passou de superávit de 0,5% do PIB para 0% do PIB, gerando apreensão quanto ao comprometimento do governo empreender esforço para evitar uma escalada no endividamento público. A desvalorização do Real em 2024 até junho de 2024 era de cerca de 13,2%, e a moeda brasileira era a mais desvalorizada no ano entre as economias emergentes. O Real demasiadamente desvalorizado tem aumentado a percepção de que o Banco Central poderá elevar a taxa Selic para evitar que a inflação volte a subir.

Os desafios no horizonte

As reformas estruturais implantadas entre 2016 e 2022 estabeleceram condições favoráveis ao crescimento econômico de médio prazo, que tende a oscilar em torno de 2,5% ao ano. No entanto, há alguns desafios a serem vencidos no curto prazo, para que esta perspectiva não seja comprometida.

O maior desafio se concentra na regulamentação e na implantação da reforma tributária, aprovada em 2023, em meio à necessidade de revisão dos critérios para elaboração do orçamento público. O eventual fracasso pode culminar em uma carga tributária maior do que a capacidade de absorção pelos contribuintes ou em uma escalada no endividamento público – em ambos os casos, deslocando recursos do setor privado para o setor público e comprometendo a capacidade de crescimento sustentável do país.


Autor: Frederico Turolla

Pezco Economics

Rua Bela Cintra, 1.200 – 1º andar – Cerqueira César
01415-002 São Paulo – SP
Tel (11) 3582 5509
www.pezco.com.br
[email protected]