Doing Business in Brazil

1.1. Destaques do Brasil

02/08/25

Brasil em perspectiva

O Brasil é a maior economia da América do Sul e da América Latina e está entre as dez maiores economias do planeta – em 2023, ocupava a nona posição, com um PIB de US$ 2,17 trilhões. Com uma extensão territorial de 8,51 milhões de km2, representa cerca de 48% do território da América do Sul. E com uma população de 203 milhões de habitantes, ocupa o sexto lugar entre os países mais populosos do mundo, representando um importante mercado consumidor.

O ambiente econômico tem apresentado transformações não desprezíveis desde os anos 1990. Reformas importantes foram implantadas entre os anos 1990 e 2000, com destaque para a estabilização econômica a partir do Plano Real e das metas de inflação, regime de câmbio flutuante, lei de responsabilidade fiscal, e privatizações e concessões de serviços públicos, dentre outros, contribuindo para o aumento da produtividade do país e de seu potencial de crescimento.

Desde 2016, uma nova e revigorada rodada de reformas estruturais está em curso, desta vez, focada em duas frentes principais: 1) melhorar o ambiente de negócios; e 2) melhorar a alocação dos recursos públicos. Houve avanço importante, com destaque para os seguintes temas:

Tabela 1 – Algumas das reformas estruturais aprovadas desde 2016 e em trâmite:

Alocação de recursos Coordenação e Cooperação
Atualização das Regras Fiscais Lei de Liberdade Econômica
Reforma Trabalhista e Previdenciária Acordos Comerciais
Atualização das Normas Cambiais Nova Lei de Recuperação Judicial e de Falências
Autonomia do Banco Central Lei de Garantias e Securitização
 Open Banking, PIX e Moeda digital (DREX) Lei Geral das Agências Reguladoras
Reforma Tributária Marco Regulatório da Banda Larga Fixa
Nova Lei de Licitações Novo Marco Legal do Saneamento Básico
Lei das Estatais Novo Marco Legal das Ferrovias
Substituição da TJLP pela TLP Marco Legal das Startups

Fonte: Governo Federal, Congresso Nacional e veículos de imprensa.

 

Além das reformas, tem acontecido um movimento de inovação, como o PIX, a moeda digital do Banco Central (DREX), e o Open Finance, dentre outros, adicionando oportunidades para redução no custo de transação. Esse conjunto de iniciativas contribui para diminuir o Custo Brasil e aumentar o potencial de crescimento econômico.

Algumas estimativas preliminares sugerem que o potencial de crescimento econômico de médio prazo tenha crescido em cerca de 1,0 ponto percentual em relação ao crescimento médio observado entre 2017 e 2019 (1,4%), como resultado das reformas estruturais e das oportunidades relacionadas à energia renovável e ao setor de petróleo e gás.

O Banco Mundial, em seu panorama de 2025, estima que o crescimento se estabilize em cerca de 2,3% ao ano no médio prazo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) indica um potencial de crescimento médio de 2,5%, ligeiramente acima dos níveis anteriores publicados.

A conjuntura econômica de curto prazo

A economia brasileira tem surpreendido pela sua resiliência desde 2021. A taxa média de crescimento do PIB foi de 3,6% no quadriênio 2021-2024. Destacam-se as taxas médias de crescimento dos segmentos agropecuário (2,7%), eletricidade, gás e saneamento (5,3%), construção (5,8%), transporte e armazenagem (4,7%), informação e comunicação (7,0%) e outras atividades de serviços (7,2%).

O desempenho positivo indica que o “boom” econômico do período foi liderado pela expansão da oferta, viabilizada pelas reformas econômicas implantadas nos anos anteriores. Ao analisar os segmentos sob a ótica da demanda, para o mesmo quadriênio, o destaque está nas taxas médias de crescimento das importações (6,8%), exportações (5,5%) e formação bruta de capital fixo (4,4%), o consumo privado (3,7%) reflete o aumento do salário real nos últimos aos, enquanto a dinâmica do governo (3,0%) ficou abaixo do PIB.

O crescimento das exportações e das importações reflete a maior abertura da economia – em dez anos, a corrente de comércio do país (exportações mais importações) passou de 24,7% do PIB em 2014 para 35,5% do PIB em 2024, como resultado dos acordos comerciais assinados entre 2016 e 2022, além do avanço do país como importante participante mundial na oferta de grãos, de minério de ferro e de petróleo e gás.

A solidez da economia associada à atualização da legislação trabalhista tem resultado na diminuição da taxa de desemprego, que saiu de 14,9% no 1º trimestre de 2021 (maior nível da série histórica, refletindo a pandemia mundial da covid-19) para 6,2% no final do 4º trimestre de 2024 (a menor taxa da série histórica). A população ocupada acima de 104 milhões de pessoas e a recuperação no rendimento real individual tem resultado em uma massa de rendimento real no maior nível da série histórica, em torno de R$ 341 bilhões.

A despeito do forte crescimento econômico, a inflação dos preços ao consumidor tem desacelerado, após a forte alta no biênio 2021-2022, em função do choque de oferta causado pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia. A variação em 12 meses do IPCA diminuiu de 12,13% em abril de 2022 para 4,71% em dezembro de 2024. A variação em 12 meses do IGP-M saiu de 37,04% em maio de 2021 para 6,53% em dezembro de 2024, com 14 meses seguidos de deflação entre abril de 2023 a maio de 2024. Essa desinflação possibilitou o ciclo de redução da taxa Selic, que subiu até 13,65% em julho de 2023, reduzida a 10,40% em agosto de 2024.

As tensões geopolíticas contribuíram para interromper a trajetória de queda da Selic. Preço das commodities retomaram patamares pré-pandemia, porém, a expectativa sobre os desdobramentos dos conflitos regionais aumentou a preocupação da autoridade monetária. Além disso, em 2024, as duas maiores economias do planeta têm apresentado comportamento divergente. De um lado, a resiliência da economia americana, com o mercado de trabalho melhor do que o esperado, tem postergado o início do ciclo de queda da taxa de juros, e mantendo o dólar valorizado frente às principais moedas. De outro, a fraqueza da economia chinesa tem efeito negativo sobre o preço do minério de ferro, sugerindo potencial redução do superávit comercial. Ambos os efeitos são na direção de depreciação do Real.

Internamente, a ausência de consenso político para encontrar uma solução para trajetória da dívida pública agravou as incertezas domésticas e contribuiu com a depreciação do real. O impasse resultou na Emenda de Transição — que ampliou as despesas obrigatórias — e na substituição do Teto de Gastos pelo Novo Arcabouço Fiscal. Nesse contexto, a necessidade líquida de financiamento do governo central saltou de R$ 213,45 bilhões em 2021 para R$ 285,46 bilhões em 2024, um avanço de 33,7 % em apenas quatro anos.

Em abril de 2024, o governo anunciou a alteração na meta para o resultado primário de 2025, que passou de superávit de 0,5% do PIB para 0% do PIB, gerando apreensão quanto ao comprometimento do governo empreender esforço para evitar uma escalada no endividamento público. A desvalorização do Real em 2024 foi de 25,1%, e a moeda brasileira foi a mais desvalorizada no ano entre as economias do G20. O Real demasiadamente desvalorizado tem aumentado a percepção de que o Banco Central poderá elevar a taxa Selic para evitar que a inflação volte a subir.

Os desafios no horizonte

As reformas estruturais implantadas entre 2016 e 2022 estabeleceram condições favoráveis ao crescimento econômico de médio prazo, que tende a oscilar em torno de 2,5% ao ano. No entanto, há alguns desafios a serem vencidos no curto prazo, para que esta perspectiva não seja comprometida.

O maior desafio se concentra na regulamentação e na implantação da reforma tributária, aprovada em 2023, em meio à necessidade de revisão dos critérios para elaboração do orçamento público. O eventual fracasso pode culminar em uma carga tributária maior do que a capacidade de absorção pelos contribuintes ou em uma escalada no endividamento público – em ambos os casos, deslocando recursos do setor privado para o setor público e comprometendo a capacidade de crescimento sustentável do país.

Em 2025, a guerra tarifária apresenta um desafio ambivalente para a economia brasileira. Por um lado, as tarifas impostas podem levar a uma retração do PIB, com perdas significativas em setores-chave como máquinas agrícolas e aeronaves, além de gerar volatilidade cambial e pressão inflacionária, tornando a economia mais vulnerável e impactando diretamente o consumidor. Contudo, esse cenário desafiador também pode criar oportunidades, a redução da competitividade de produtos de países taxados pode favorecer as exportações brasileiras, e a busca por novas cadeias de suprimentos por grandes economias, pode redirecionar o comércio para o Brasil. Além disso, a situação pode impulsionar a busca por novos acordos comerciais e fortalecer a aposta no mercado interno, diversificando as fontes de crescimento do país em um ambiente global cada vez mais protecionista.


Autor: Matheus Lazzari Nicola
Pezco Economics

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