Resiliência Climática: Avaliação de Risco Climático Físico e Plano de Adaptação para uma Concessionária de Saneamento no Brasil

12/set/2025 - Associados, Meio ambiente - EBP Brasil Consultoria e Engenharia Ambiental Ltda.

As mudanças climáticas já não são uma ameaça futura, mas uma realidade presente que impacta diretamente a economia e os negócios. Com projeções indicando a intensificação de seus efeitos, desde a disrupção de cadeias de suprimentos até danos em infraestruturas, a inação representa um risco permanente. Diante deste cenário, é imperativo que as empresas compreendam, avaliem e se preparem para os riscos climáticos, adotando medidas de adaptação.

A avaliação de riscos climáticos e a elaboração de planos de adaptação é imprescindível para garantir a sustentabilidade e a competitividade das empresas diante dos cenários futuros de mudanças climáticas. Ao antecipar os riscos climáticos das operações, as organizações podem planejar e implementar medidas estratégicas de adaptação, evitando perdas financeiras e assegurando a continuidade operacional com segurança. Além de fortalecer a resiliência da infraestrutura e da logística, essa abordagem atende às crescentes demandas de investidores e clientes por práticas empresariais alinhadas à transição para uma economia de baixo carbono.

A EBP aplica nestes estudos uma abordagem multidimensional para a avaliação do risco climático, que integra três componentes fundamentais: (i) o componente meteorológico, representado pela análise das ameaças climáticas, tanto agudas (como enchentes repentinas, incêndios florestais e ondas de calor) quanto crônicas (como o aumento gradual do nível do mar e o estresse térmico); (ii) o componente ambiental, expresso na exposição, que avalia a capacidade de suporte do meio físico frente às ameaças identificadas; e (iii) o componente socioeconômico e demográfico, expresso na vulnerabilidade, que captura a predisposição de um grupo populacional e infraestruturas de sofrer danos em face de um fenômeno perigoso. A vulnerabilidade é resultante da combinação entre a análise de sensibilidade, que é o nível em que um sistema é afetado, tanto negativa como beneficamente, pela variabilidade climática,  e  a capacidade adaptativa, que captura a capacidade de um grupo populacional submetido a um fenômeno perigoso de absorver o choque e se adaptar para voltar a um estado aceitável.

A análise integrada desses três componentes permite identificar com precisão os riscos físicos atuais e futuros decorrentes das mudanças climáticas, oferecendo às empresas uma visão holística e estratégica para a formulação de medidas eficazes de adaptação, prevenção e fortalecimento da resiliência.

Nesse sentido, a EBP, desenvolveu recentemente este estudo no âmbito do Programa de Gestão de Riscos e Impactos Associados à Mudança Climática para as áreas de responsabilidade de uma concessionária de saneamento, no estado do Rio de Janeiro.  O objeto de estudo abrange mais de mil ativos, que compõem os sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, distribuídos em diversos municípios no estado do Rio de Janeiro. Dentre o conjunto de ativos, mais de 50 foram selecionados como “ativos prioritários”, compostos por diferentes sistemas e operações.

A análise foi conduzida dentro de uma abordagem estruturada e alinhada com as melhores práticas globais, com o intuito de garantir a resiliência da organização frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas. O estudo adota o método de avaliação baseado nos Princípios do Equador 4 (EP4) e Padrões de Desempenho do International Finance Corporation (IFC), que orienta a gestão de riscos ambientais e sociais em projetos de financiamento, e nos padrões da International Financial Reporting Standards (IFRS) – S2 Climate-related Disclosures, que exigem uma divulgação clara e transparente sobre os impactos climáticos financeiros nas organizações. Além disso, o relatório incorpora as recomendações do Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD), um guia desenvolvido pela Diretoria de Estabilidade Financeira do G20, que orienta as empresas a divulgarem de forma abrangente e consistente os riscos climáticos a que estão expostas.

As principais ameaças climáticas avaliadas no projeto foram: inundações bruscas, enxurradas e alagamentos, erosão hídrica, deslizamentos de terra, secas meteorológicas e estiagens, temperaturas extremas e elevação do nível do mar. A Análise revelou que o maior percentual de ativos expostos a risco climático está associado às inundações rápidas, em cerca de 2/3 dos municípios. Em seguida, destaca-se o risco de estresse térmico, presente em cerca de metade dos municípios, e o risco de deslizamentos, que afeta cerca de 1/3.

Para este estudo, foram considerados dois períodos futuros de 25 anos, correspondentes a 2020-2044 e 2045-2069, utilizando-se dados de modelagem climática disponibilizados no IPCC AR6, sendo que 3 ameaças climáticas foram identificadas com risco muito alto para mais de 50% dos municípios atendidos, considerando os dois cenários de projeção: inundações bruscas, enxurradas e alagamentos, temperaturas extremas e secas meteorológicas e estiagens.

Dessa maneira, políticas de adaptação e mitigação devem ser implementadas para enfrentar os desafios climáticos projetados para as próximas décadas, especialmente aqueles que possuem maiores evidências e menos incertezas acerca de sua concretização, devendo se ter um plano de ação climático que priorize aqueles municípios que já apresentam risco alto ou muito alto no curto prazo e planeje a adaptação a médio e longo prazo nos outros municípios.

O Plano de ação tem como objetivo de orientar e priorizar as ações a serem executadas, fomentadas e articuladas nas operações da companhia, bem como nos planos de investimentos futuros, aplicando uma visão holística aos princípios de adaptação. No âmbito deste estudo, foram propostas mais de 50 ações, organizadas em três categorias: execução, articulação e fomento. Dentre essas ações, muitas foram identificadas como prioritárias, e estão relacionadas aos riscos climáticos classificados como “muito altos” (inundações bruscas, enxurradas e alagamentos, temperaturas extremas e secas meteorológicas e estiagens).

Além disso, foram desenvolvidos projetos de adaptação, que se referem as ações específicas para cada tipo de ativo prioritário de forma a avaliar a vulnerabilidade dos componentes aos riscos climáticos. Elaborou-se fichas individuais que sintetizam os resultados do risco climático, apresentando a localização do ativo, a classificação dos riscos no local e os resultados dos indicadores compostos e índices climáticos.

Por fim, como parte do plano de ação, sugeriu-se uma metodologia de monitoramento e avaliação, para que a empresa e outros responsáveis possam acompanhar e avaliar os resultados de suas iniciativas de adaptação às mudanças climáticas.

A experiência relatada mostra que integrar a avaliação de risco climático físico a planos estruturados de adaptação é um passo essencial para fortalecer a resiliência das organizações. Essa abordagem multidimensional pode ser aplicada em diferentes escalas e setores, como plantas industriais, infraestruturas (portuária, rodoviária, data centers), empreendimentos imobiliários (região metropolitana, município, gleba, bairro, site) e entre outros. Quando aliada às melhores práticas internacionais e às recomendações de organismos globais, permite transformar riscos em oportunidades de inovação, fortalecer a governança socioambiental e assegurar a sustentabilidade das operações no longo prazo.