O Crescente Cenário da Riqueza no Brasil: Oportunidades e Desafios para a Gestão Moderna de Portfólios

22/set/2025 - Associados, Economia - swissQuant Group AG

Artigo originalmente publicado em: https://swissquant.com/industry-insights/brazils-rising-wealth-landscape-opportunities-and-challenges-for-modern-portfolio-management/ 

O crescimento da riqueza no Brasil e a mudança nas estratégias de investimento

O Brasil tem visto um aumento notável no número e no patrimônio total de Indivíduos de Patrimônio Ultra Elevado (Ultra High Net Worth Individuals – UHNWIs) e Indivíduos de Alto Patrimônio (High Net Worth Individuals – HNWIs) na última década. Essa tendência foi impulsionada por uma combinação de sucesso empreendedor, ciclos favoráveis das commodities globais e um setor financeiro doméstico em amadurecimento.

Em 2025 foram registrados 433 mil milionários no Brasil, incluindo 4.218 UHNWIs. Até 2028, esse número deve subir para 470 mil [1], um aumento estimado de 8,55%. Medido pela extensão de seus ativos financeiros, esse grupo representa hoje um dos segmentos mais dinâmicos da América Latina.

Historicamente, os portfólios de investimento desses indivíduos foram desproporcionalmente concentrados em títulos de renda fixa. Há duas décadas, apenas cerca de 3% dos investimentos brasileiros eram alocados no mercado acionário, contra 97% em renda fixa, um forte contraste em relação à divisão quase 50-50 observada nos Estados Unidos [2]. A razão fundamental é simples: as taxas de juros reais muito altas do Brasil recompensaram continuamente investidores em busca de retornos confiáveis. No contexto local, títulos públicos e dívidas corporativas de alta qualidade ofereceram tanto segurança quanto taxas atraentes.

No entanto, o cenário de investimentos está mudando. Um segmento significativo de UHNWIs e HNWIs está ampliando suas alocações em ativos internacionais para atingir três objetivos essenciais [3]:

1.      Diversificação geográfica e política de riscos:
Os ciclos econômicos históricos do Brasil, as flutuações cambiais e a instabilidade política destacaram a necessidade de distribuir riscos em diversas jurisdições. As alocações internacionais ajudam estrategicamente a proteger a riqueza contra esses choques domésticos.

2.      Melhoria da diversificação de oportunidades e riscos:
Apesar do crescimento, o mercado de capitais brasileiro continua apresentando uma gama relativamente limitada de instrumentos em comparação a países desenvolvidos. Alocar recursos no exterior dá acesso a classes de ativos e estratégias que não podem ser replicadas domesticamente.

3.      Acesso a mercados de capitais e expertise mais amplos:
Os mercados globais oferecem uma gama mais extensa de instrumentos financeiros, capacidades sofisticadas de gestão de ativos e grandes pools de liquidez.

O setor de assessoria no Brasil também está sendo transformado por esse aumento de acessibilidade.

Por muitos anos, famílias de alta renda dependeram de assessores vinculados, profissionais afiliados a uma única corretora e restritos aos produtos daquela instituição [4].

Desenvolvimentos regulatórios, como a Resolução CVM 19/21, possibilitaram o crescimento de consultores de valores mobiliários independentes, que podem atuar junto a múltiplos bancos e custodians [5].

À medida que mais práticas de assessoria vinculada migram para o modelo de consultoria independente, famílias de Indivíduos de Patrimônio Ultra Elevado e Indivíduos de Alto Patrimônio têm acesso a um universo mais amplo de instrumentos, estratégias e expertise.

Essa mudança está acelerando a demanda por ferramentas de integração que consolidem portfólios multi-banco e transfronteiriços, garantindo aos clientes uma visão holística e transparente de sua riqueza.

Essas transformações criam complexidades adicionais na gestão de portfólios. Gerenciar uma combinação de ativos domésticos e internacionais exige instrumentos avançados de avaliação de risco e a capacidade de integrar múltiplas classes de ativos em uma estratégia coerente.

Para bancos privados, family offices e gestores independentes, isso se traduz em uma crescente necessidade de plataformas que:

·         Entreguem transparência em tempo real e histórica dos portfólios.

·         Integram tanto ativos domésticos quanto globais em uma única estrutura de risco.

·         Identifiquem continuamente oportunidades de otimização em resposta às condições de mercado em evolução.

·         Demonstrem compreensão clara e abrangente dos objetivos, restrições e comportamento histórico de investimento de cada cliente.

Em resumo, atender ao mercado brasileiro moderno de UHNWIs e HNWIs exige hoje análises em nível institucional que sejam ao mesmo tempo fáceis para os clientes compreenderem, mas rigorosas o suficiente para satisfazer gestores de risco profissionais.

 

Ferramentas Avançadas de Gestão de Patrimônio: Precisão, Transparência e Adaptabilidade

Respondendo a essa necessidade, soluções avançadas de gestão patrimonial surgiram para a supervisão moderna de portfólios. Essas plataformas devem auxiliar consistentemente os assessores a entregar retornos ajustados ao risco que atendam às expectativas dos clientes, bem como permitir análise comparativa com pares de mercado.

As principais forças da plataforma devem incluir:

1.      Transparência contínua do portfólio:

Fornecer uma visão sempre atualizada de desempenho e risco. Isso permite que assessores, especialistas em portfólio e, quando autorizado, os próprios clientes vejam claramente como os portfólios estão posicionados e como estão performando em relação aos objetivos, favorecendo conversas informadas e relacionamentos mais sólidos.

2.      Alertas proativos de otimização:

Monitorar tanto os movimentos de mercado quanto mudanças no cenário de risco específico do cliente, sugerindo ajustes quando surgem riscos ou oportunidades. Isso permite que assessores ajam rapidamente, protegendo capital em momentos de queda e aproveitando oportunidades antes que o mercado se afaste.

3.      Agnosticismo em relação a instrumentos e provedores:

Uma plataforma não deve se limitar a um conjunto proprietário de produtos ou fontes de dados. Em vez disso, deve trabalhar com dados de alta qualidade e validados, garantindo que o aconselhamento seja baseado em insumos confiáveis, objetivos e centrados no cliente.

4.      Monitoramento extensivo de riscos:

O sistema deveria englobar uma ampla gama de parâmetros de risco, incluindo métricas de volatilidade de mercado, correlações entre classes de ativos e avaliações de estresse baseadas em cenários. Ao fornecer um leque diversificado de indicadores, o sistema pode identificar problemas cedo e apoiar estratégias de investimento mais resilientes e bem-informadas.

5.      Adaptação ao perfil específico do cliente:

O universo de investimentos e as estratégias de otimização devem ser ajustados à capacidade de diversificação de risco do cliente, considerando tanto o tamanho do portfólio quanto o apetite de risco. Isso garante que a estratégia seja realista, alcançável, alinhada à tolerância à volatilidade do cliente e coerente com seus objetivos de longo prazo.

Essa combinação de transparência, adaptabilidade e profundidade analítica é especialmente relevante para gestores de patrimônio brasileiros que supervisionam portfólios internacionalmente diversificados.

A capacidade de manter uma visão de risco coesa e adaptativa é uma vantagem competitiva crítica, dado que os investimentos dos clientes se estendem por diversas moedas, territórios e estruturas regulatórias.

 

Conclusão: Expectativas Crescentes no Setor de Gestão de Patrimônio no Brasil

A crescente expansão da população de UHNWIs e HNWIs no Brasil está remodelando o cenário da gestão de riqueza privada no país. Esses clientes estão mais conectados globalmente, mais sofisticados e mais exigentes na forma como sua riqueza é administrada.

Os assessores precisam agora equilibrar as oportunidades domésticas de alto rendimento com os benefícios de redução de risco da diversificação global, garantindo ao mesmo tempo transparência e responsabilidade na construção e na gestão contínua dos portfólios.

Essa transição é impulsionada por duas dinâmicas paralelas: no plano doméstico, práticas de assessoria vinculada estão migrando para consultorias independentes para oferecer às famílias acesso mais amplo a produtos e estratégias. Consultores independentes confirmam que a demanda está crescendo, com acesso a dados multi-banco via Open Finance deixando de ser um diferencial para se tornar uma expectativa [6]. Ao mesmo tempo, bancos brasileiros estão se reposicionando ao expandir plataformas offshore em hubs como Miami, Zurique, Luxemburgo, Lisboa e Uruguai, muitas vezes por meio de parcerias e aquisições, para reter famílias que buscam diversificação internacional.

Para enfrentar esses desafios, os gestores de patrimônio precisam de plataformas que entreguem análise de risco baseada em cenários, otimização de portfólio e monitoramento contínuo. Essas capacidades já são padrão entre instituições financeiras globais de ponta e estão se tornando decisivas também no Brasil.

A consequência é clara: na nova era da gestão patrimonial brasileira, aqueles que não dominarem a integração multibanco e transfronteiriça verão seus clientes mais sofisticados migrarem para provedores mais bem equipados. O futuro pertence a quem conseguir conciliar os rendimentos domésticos atrativos do Brasil com a diversificação global agora exigida pelos clientes, mesmo em meio à volatilidade persistente do país. Nesse ambiente, o parceiro tecnológico certo não é opcional: é decisivo.

 

Referências

[1] UBS Group AG. Global wealth report 2025. Zurich: UBS Group AG; 2025.

[2] Casals Iglesias, Ygosse Battisti, von Maltzan Pacheco. Why do Brazilian investors allocate so little of their investments to stocks? An experimental study on the investment allocation behavior of the Brazilian investor. São Paulo: Fundação Getulio Vargas – Escola de Economia de São Paulo; 2006.

[3] Alves APB. Investimento offshore: para onde vão as fortunas brasileiras? Forbes Money [Internet]. 2025 Jul 15 [cited 2025 Aug 24]. Available from: https://forbes.com.br/forbes-money/2025/07/investimento-offshore-para-onde-vao-as-fortunas-brasileiras

[4] Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Resolução CVM nº 178/23: Dispõe sobre a atividade de assessor de investimento [Internet]. Rio de Janeiro: CVM; 2023 Feb 14 [cited 2025 Aug 24]. Available from: https://www.cvm.gov.br

[5] Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Resolução CVM nº 19/21: Dispõe sobre a atividade de consultoria de valores mobiliários [Internet]. Rio de Janeiro: CVM; 2021 Feb 25 [cited 2025 Aug 24]. Available from: https://www.cvm.gov.br

[6] Banco Central do Brasil (BACEN). Open Finance [Internet]. Brasília: BACEN; 2023 [cited 2025 Aug 24]. Available from: https://www.bcb.gov.br/en/financialstability/open_finance