Recentemente, assisti uma palestra, em Boston, de um renomado professor de Harvard do Instituto Change Leadership – Robert Kegan – que apresentou uma nova e mais ampla perspectiva para a discussão do Humano 4.0.
O Professor Kegan ficou conhecido internacionalmente por desenvolver a teoria de construtivista-desenvolvimentista de adultos, a qual categoriza estágios do desenvolvimento do mindset e da lógica de ação. Segundo esta teoria, os adultos, ao contrário do que se pensava, podem mudar sua mentalidade (forma de ver, entender e interagir com o mundo) e, assim, o seu comportamento. Quanto maior o estágio de desenvolvimento de um adulto, maior a sua chance de lidar com mais efetividade em situações complexas, ambíguas e que exigem mudanças. E, portanto, de ampliar o seu impacto na sociedade.
Segundo seus estudos, os adultos não chegam ao estágio mais desenvolvido – mente autotransformadora – antes dos 45 anos. Além disso, apenas 7% dos adultos alcançam este patamar. Em virtude de suas características, os adultos autotransformadores seriam os mais preparados para resolver os desafios impostos pelo mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity).
Isto ocorre porque neste estágio, os adultos são capazes de mudar padrões de pensamento e de comportamento de acordo com o contexto, reconhecendo os seus limites e ampliando suas perspectivas. Além disso, abraçam maior complexidade, utilizando diferentes frameworks, não se prendendo a ideologias ou ideias fixas. Desta forma, atingem um maior poder de mobilização, de influência e de transformação sobre as pessoas, desafios e ambientes.
Em sua palestra, Kegan destacou que se vive um momento único em termos de evolução da espécie humana. Afinal, pela primeira vez na história da humanidade, tem-se um grande número de adultos com mais de 45 anos e, que viverão produtivamente por pelo mais 25 anos. Logo, aumenta-se a probabilidade destes adultos estarem no estágio autotransformador e, assim, de resolverem os problemas criados pelos estágios de mentalidade e de ação menos evoluídos, caracterizados por foco no alinhamento com as regras do grupo (status quo) ou por um poder mais autocentrado.
Um ponto intrigante posto por ele é que estamos fazendo este movimento enquanto espécie, ou seja, buscando os meios (evolução na medicina e na bioengenharia) para viver mais, aumentando as chances de evoluir para uma forma de pensar e de interagir menos tribalista e autocrática. Uma mentalidade capaz de sintetizar os desafios impostos pelo contexto complexo e ambíguo que vivemos, amplificando as chances de transformação de organizações e da sociedade. Afinal, tal como colocado tão bem por Einstein:
“Não podemos resolver os problemas atuais com a mesma mentalidade que os criou”
Sem dúvida, Kegan coloca pontos interessantes sobre a discussão do Humano 4.0, incluindo uma perspectiva evolucionista e profunda para a análise. Mostra que as organizações precisam acelerar o desenvolvimento de profissionais e líderes com mentalidade mais complexa.
Para tanto, precisam ensiná-los a mudar pensamentos e não só a adquirir mais competências técnicas. Só assim conseguirão resolver os problemas criados pelas organizações 3.0 – stress, autoritarismo, falta de conexão entre emocional e racional, falta de autenticidade, o dilema eterno entre performance e aprendizagem, visão de curto prazo e longo prazo, processos de tomada de decisão pouco responsáveis, falta de propósito e de impacto na sociedade atual.
Será que seremos responsáveis para alcançar tal patamar de evolução? Vamos nos tornar melhores humanos? Seremos capazes de nos tornarmos uma melhor versão de nós mesmos? Adotaremos uma visão menos binária dos problemas e de suas soluções? Resolveremos problemas até então insolúveis? Vamos continuar nos repetindo ou, de fato, evoluiremos?