A recessão econômica mundial em 2020 já é uma realidade, com a adoção de medidas por vários países para conter o avanço do número de infectados pelo covid-19. No cenário moderado, as estimativas de bancos e consultorias sugerem que a economia mundial crescerá 2% em 2020 (tecnicamente, crescimento abaixo de 2,5% é considerado recessão), com perda de cerca de US$ 1 trilhão. No cenário adverso, o crescimento mundial seria de 0,5% e as perdas seriam da ordem de US$ 2 trilhões. A OIT estima entre 5,3 milhões (cenário moderado) e 24,7 milhões (cenário adverso) o número de empregos eliminados em função desta pandemia.
Uma das principais preocupações no radar é sobre o impacto do shut down de diversas atividades sobre a classificação de risco das empresas. As agências classificadoras de risco têm reavaliado abruptamente o risco de crédito de empresas, dificultando o refinanciamento de suas dívidas e criando potencial problema para bancos e fundos de investimento que detêm títulos das empresas reavaliadas em suas carteiras. Segundo estimativa da OCDE, o período de baixas taxas de juros desde 2008 levou inúmeras empresas a emitirem títulos de dívida para financiarem suas atividades, elevando o total mundial a vencer no curto prazo a US$ 13,5 trilhões em 2019.
Os países desenvolvidos têm anunciado medidas para minimizar os efeitos negativos sobre a economia e sobre a saúde financeira das empresas e famílias. Os principais bancos centrais reduziram as taxas de juros para perto de zero e ampliaram seus orçamentos para compras de títulos públicos e dívida corporativa, injetando trilhões de dólares na economia. Além disso, muitos governos anunciaram a liberação de recursos orçamentários para complementar as ações dos bancos centrais. Os EUA negociam um pacote de US$ 2 trilhões, que pode envolver a distribuição de dinheiro à população. A Alemanha gastará 550 bilhões de euros enquanto o Reino Unido injetará 330 bilhões de libras – ambos para apoiar empresas e famílias durante o período do shut down. Medidas adicionais podem ser anunciadas após a reunião dos líderes do G-20 nesta segunda-feira.
No Brasil, o governo também anunciou medidas para amenizar os efeitos econômicos desta crise. Serão cerca de R$ 285 bilhões para aliviar o fluxo de caixa das empresas e evitar demissões em massa, através de linhas de crédito do BNDES, BB, Caixa e recursos do Proger/FAT e do diferimento no recolhimento de impostos e encargos. Além disso, o Bacen tem realizado intervenções no mercado de câmbio para conter a volatilidade (foram cerca de US$ 15 bilhões em Mar20 até o dia 19), reduziu o compulsório e aliviou a exigência de capital sobre os bancos. Na semana passada, reduziu a taxa Selic de 4,25% para 3,75%. Medidas adicionais podem ser anunciadas, especialmente com a aprovação do decreto do estado de calamidade.
Apesar das medidas, a recessão econômica é inevitável. O governo revisou recentemente a projeção de crescimento em 2020 de +2,1% para +0,02%, mas é provável que revise novamente. Diversas instituições revisaram suas projeções de crescimento em 2020 para algo entre -3% e -0,3% (de cerca de +1,5% anterior). A Pezco revisou a projeção para 2020 de +1,5% para -0,81%. A estimativa é que o 1T20 apresente queda de 0,6% QoQ e o 2T20 apresente queda de 3,2% QoQ, liderados pelos setores de serviços e comercio (exceto supermercados e farmácias) e alguns segmentos da indústria.
No curto prazo, a pandemia do covid-19 causará impacto negativo mais severo na aviação comercial, comércio (exceto supermercados e farmácias) e prestação de serviços (exceto saúde e telecomunicações) e em segmentos da indústria.
Confira os destaques da semana por setor
Aviação comercial: A aviação comercial, que representa cerca de 1,9% do PIB (segundo o Ministério da Infraestrutura) registrou o cancelamento de 85% dos voos internacionais e 50% dos voos domésticos. Na semana passada, o governo anunciou três medidas: 1) postergação das tarifas de navegação aérea; 2) reembolso das passagens aéreas solicitadas até 31/12/20 poderá ser em 12 meses, sem cobrança de penalidades contratuais; e 3) alteração no cronograma de pagamento das contribuições fixas e variáveis de 2020 das concessões aeroportuárias, com possibilidade de quitação até 18/12/20. O BNDES estuda medidas de apoio às empresas aéreas.
Energia: O setor elétrico também deve sentir os efeitos da crise do covid-19. Segundo estudo da consultoria Thymos Energia, o consumo de energia pode diminuir de 1,6% a 14% em 2020, dependendo da intensidade do impacto econômico da pandemia sobre a economia. A projeção anterior era de crescimento de 3% a 4%. Essa incerteza pode levar ao adiamento dos leilões de energia A-4 e A-5, previstos para o dia 30/Abr.
Varejo: No varejo, os supermercados registaram aumentos de cerca de 8,5% na frequência de algumas lojas durante o fim de semana anterior ao início de medidas como adoção do home office e fechamento de shoppings (segundo a Apas). A demanda chegou a superar em 30% e meta de vendas de algumas unidades de supermercados. No mesmo período, os segmentos de vestuários, calçados, utensílios domésticos, dentre outros, observaram queda de 20%, segundo a Ablos.
Construção: As incorporadoras estão mais cautelosas na aquisição de terrenos e nos planos de lançamentos de novos empreendimentos, em função da pandemia do covid-19. A expectativa é que o ano seja perdido no segmento de média renda, responsável por cerca de 50% do mercado, se a crise demorar para passar e aumentar o desemprego.
Projeções
Pezco Economics and Business Intelligence