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Painel SWISSCAM – Como as principais empresas suíças estão se preparando para a retomada econômica?

02/out/2020 - Painel, Webinário

Nesta quinta-feira (15/10), a SWISSCAM ofereceu uma oportunidade única ao organizar um painel online com 8 líderes das principais empresas suíças presentes no Brasil. O evento teve como objetivo discutir as estratégias para a retomada econômica, após um ano tão desafiador como o de 2020.

A abertura do painel foi feita pelo Presidente da SWISSCAM, Henrique Philip Schneider e pelo Embaixador da Suíça no Brasil, Andrea Semadeni. O Embaixador fez um breve panorama sobre a situação na Suíça, segundo ele, estima-se uma queda de 3,8% no PIB, um número mais animador, uma vez que a expectativa anterior era de queda de 6,2%. No entanto, ele se mostrou preocupado com o início da “segunda onda” da pandemia no continente europeu. Andrea Semadeni também agradeceu as empresas suíças no Brasil, que tiveram um papel social importante ao realizar diversas doações para a luta contra a COVID-19.

Antes do início do painel tivemos uma apresentação do Economista da Consultoria Pezco, Helcio Takeda. Ele trouxe dados sobre os impactos da pandemia em cada setor da economia e falou um pouco sobre as perspectivas para o futuro. Claramente, os setores mais atingidos foram os que dependem de fluxo de pessoas como os setores: aéreo, logístico, lazer e turismo, que englobam hotéis, restaurantes, bares, entre outros serviços. Por outro lado, o setor de bens duráveis apresentou crescimento: “As pessoas que não tiveram suas rendas impactadas conseguiram economizar, pois não gastaram com lazer. Muita gente acabou comprando móveis, eletrodomésticos, materiais de construção e outras melhorias para casa.” Ainda segundo o economista, os setores agropecuário, financeiro e imobiliário se mantiveram firmes e não foram impactados. Para o futuro, Helcio afirma que é importante que o governo tome cuidado com as contas públicas, continue com a agenda reformista e faça ajustes para que o real não fique tão desvalorizado. “Vemos um horizonte positivo, de queda de 4,2% do PIB em 2020, mas forte recuperação em 2021, com expectativa de alta de mais de 3% do PIB.

Elber Justo, Diretor Presidente da MSC Mediterranean Shipping Company, foi o primeiro a falar no painel e dividiu conosco que o setor de transporte de cargas não parou durante a crise, pois o Brasil exportou bastante, aproveitando a alta do dólar e a alta demanda da China. “O Brasil teve uma grande oportunidade e aproveitou esse espaço no comércio global. Enquanto o mundo inteiro parou de produzir, o Brasil atendeu essa demanda com nossos produtos agrícolas. Saíram muitos navios carregados do Brasil. Agora esses navios estão vazios esperando o aumento da importação brasileira para voltarem.” Elber falou ainda dos desafios futuros para o Brasil. “Agora, com a pandemia mais controlada, os outros países vão voltando a produzir e a exportar. Não teremos mais o espaço abundante de antes, teremos concorrentes e isso é preocupante para a retomada.”

A indústria de Elevadores também parece não ter sentido o impacto da crise, pelo contrário, Flavio Silva, Presidente da Elevadores Atlas Schindler, disse que a empresa aproveitou o embalo do setor imobiliário. “Em agosto de 2019 foram entregues no Brasil 6.300 unidades, enquanto que em agosto deste ano foram entregues 8 mil unidades. A taxa de juros baixa a 2% estimulou a compra de novos imóveis.” Flavio também disse que o serviço de manutenção de elevadores foi considerado  essencial durante a pandemia e os funcionários da Atlas Schindler trabalharam normalmente neste período.

Miguel Díaz, CFO da Nestlé Brasil, destacou que a pandemia gerou uma mudança de comportamento na sociedade, pois o brasileiro passou a comer em seu lar. “As famílias acabaram destinando maior parte do seu orçamento para despesas com alimentação e o auxílio emergencial impulsionou ainda mais essa tendência. Contudo, essa alta demanda também trouxe problemas e desafios para a empresa. Vimos uma maior demanda de produtos lácteos, por exemplo, porém parte do leite fresco no Brasil é importado e o preço subiu excessivamente, então tivemos que lidar com essas adversidades.” Miguel comentou também que ao cozinhar em casa o brasileiro passou a observar melhor o que come e a gostar de cozinhar com a família. “Tivemos um aumento nas vendas de produtos que os consumidores consideram saudáveis e da linha vegana. Também vendemos mais produtos de reforço alimentar para os idosos, que procuraram formas de aumentar a sua imunidade durante a pandemia.”

Monica Vassimon, Presidente da Clariant Região América Latina, mostrou como em uma só empresa a crise pode impactar de formas desiguais. A Clariant é uma empresa de produtos químicos que atende diferentes indústrias e por isso acabou tendo variações. “Tivemos uma resiliência maior no setor de higiene pessoal, limpeza doméstica e tintas. Mas, sabemos que a alta de tintas, por exemplo, é algo pontual e não se manterá. Outros setores também ficaram estáveis como produção de óleos comestíveis e mineração. No entanto, tivemos problemas no setor de produção de materiais químicos automotivos e na produção e exploração de petróleo. Os campos de petróleo ficaram parados e também não houve tanta demanda por combustíveis.” Monica acredita que a retomada não será rápida e lembrou que o Brasil tenta se recuperar de crises anteriores.

Renato Carvalho, Presidente da Novartis Brasil, representou o setor da saúde, o mais requisitado durante a pandemia. Segundo ele, a Novartis teve que agir rapidamente para investir em pesquisas de tratamentos contra a COVID-19 e também na montagem de hospitais de campanha. “Essa pandemia mostrou como basta um problema de saúde para toda a economia ser impactada. Acredito que agora a saúde será um tema prioritário. Vejo também que o setor da saúde deverá passar por um processo de digitalização rápido daqui pra frente. Um exemplo disso é a telemedicina, sua implementação vinha sendo discutida há muito tempo, mas existiam dúvidas sobre a prática. Com a pandemia o uso da telemedicina foi instantâneo.” Renato se mostrou receoso, pois em razão da pandemia muitas pessoas não realizaram seus exames periódicos. “Infelizmente, temos hoje pacientes que estão doentes e não sabem. Essa conta virá mais tarde, quanto mais tarde o diagnóstico, mais doentes graves teremos e consequentemente mais custos também. O corte financeiro planejado pelo governo no Ministério da Saúde é preocupante, principalmente em um momento como este no qual os serviços do SUS serão mais usados.”

Roberto Hernandez, Diretor Executivo Commercial Insurance, Corporate Life & Pensions da Zurich Seguros mostrou que momentos de crises também são momentos de oportunidades. “Nós tiramos da gaveta todos os projetos para 2021 e 2022 e os colocamos em prática em 2020. Foi o momento de acelerar estratégias, mais do que mudar de estratégias. Nós investimos em avanços tecnológicos. Criamos novos portais digitais de comunicação com os clientes, como a opção de inspeção e atendimento de sinistro online e ainda oferecemos cursos para capacitar e ajudar corretores do todo o Brasil.” Roberto também contou que as empresas pequenas foram as que mais sofreram, então foi necessário negociar com esses empreendedores para não perder clientes.

O setor aéreo, representado pelo Diretor Senior para a América do Sul da Lufthansa Group, Tom Maes, foi de longe o mais atingido. Os prejuízos foram enormes e a retomada parece estar muito longe de acontecer. Segundo Tom, a previsão é de que o setor só se recupere em 2026. “Tivemos uma baixa de receita muito grande, mas temos custos fixos de 500 milhões de euros, mesmo com os aviões parados. Para piorar a situação, o prazo para reembolsos de passagens terminará no próximo ano e teremos que tirar mais dinheiro do caixa.” O grande desafio do setor é recuperar a confiança dos passageiros, a Lufthansa vem tomando todas as medidas necessárias para que as pessoas se sintam seguras, mas Tom pede auxílio dos governos. “É necessário unificar as regras de segurança para se ter condições básicas de viagem. As empresas áreas estão tendo que se adaptar às regras de cada país.” A grande aposta da empresa é de que a recuperação do turismo reflita nas vendas de passagens. “Vamos oferecer mais ofertas turísticas, vamos inclusive aumentar os voos entre São Paulo e Zurique. As viagens corporativas não são nosso foco no momento.”

O último convidado a falar foi Valdemar Fischer, Diretor Geral da Syngenta para América Latina. O setor agrícola vive um cenário completamente diferente, a alta nos preços das commodities e o dólar em alta alavancaram os negócios. “Não paramos em nenhum momento, pelo contrário, trabalhamos ainda mais, pois tínhamos medo no começo da pandemia de que houvesse algum problema de abastecimento no país. Este problema não aconteceu e nós conseguimos alimentar as pessoas durante a pandemia. O Brasil bateu recorde este ano de maior área plantada.” Para Valdemar, com a pandemia as pessoas passaram a dar mais valor ao setor agrícola e a Syngenta percebeu a importância de continuar inovando. “Temos que seguir inovando para oferecer produtos de qualidade, sustentáveis e a preços baixos.”

Neste momento tão desafiador em que vivemos, foi muito importante ouvir as ideias, opiniões e experiências de nossos convidados. Parabéns a todos pelos esforços em se adaptar e inovar em um cenário de crise como esse. Os associados que perderam o painel online, podem ter acesso à gravação na área restrita do site