No dia 10 de setembro de 2025, pelo quarto ano consecutivo, o Comitê de Sustentabilidade da SWISSCAM e o Consulado Geral da Suíça em São Paulo organizaram o Painel de Sustentabilidade na Residência Consular da Suíça em São Paulo.
O Cônsul-Geral da Suíça em São Paulo, Senhor Peter Hafner, deu as boas-vindas a todos e passou a palavra ao Embaixador da Suíça no Brasil, Senhor Hanspeter Mock.
O Embaixador Hanspeter Mock destacou os esforços da Suíça na promoção da sustentabilidade no Brasil, por meio do programa Road to Belém, iniciado no ano passado. Por ocasião da COP30, serão apresentadas diversas ações regionais voltadas à bioeconomia, uso sustentável da água, pesquisa, inovação e valorização de conhecimentos tradicionais, com participação das equipes da Swissnex e da agência de cooperação suíça, baseada no Peru.
Apesar das dificuldades logísticas e dos altos custos previstos para a COP30, que inviabilizaram a criação de um pavilhão suíço na zona verde do evento, a Suíça marcará presença no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, entre outras atividades. O programa será encerrado com o 3º Fórum de Infraestrutura Brasil-Suíça, em São Paulo, no início de dezembro. O embaixador ressaltou que o objetivo é manter o engajamento após a COP, garantindo continuidade aos projetos, como a renovação da Casa Goeldi.
Outro ponto central do discurso foi a iminente assinatura do Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a EFTA. O embaixador alertou, no entanto, que a assinatura não é o fim do processo: a ratificação na Suíça deverá passar por referendo popular, como é comum no país. Ele reforçou que será necessário justificar o acordo à sociedade suíça, especialmente no que diz respeito aos compromissos ambientais e sociais. Para isso, será fundamental o engajamento contínuo das empresas suíças no Brasil e a realização de eventos que contribuam para formar uma opinião pública bem-informada sobre o tratado.
Por fim, o embaixador agradeceu às empresas suíças parceiras e convocou as que ainda não participam a se envolverem nos projetos futuros. Ele reiterou o compromisso da embaixada e dos consulados suíços em fortalecer os laços com o Brasil e manter viva a cooperação bilateral nas áreas de sustentabilidade, inovação e comércio.
Ana Moeri, Diretora Presidente do Instituto Ekos Brasil e Vice-Presidente e Coordenadora do Comitê de Sustentabilidade da SWISSCAM, fez a abertura do painel e agradeceu ao embaixador Hanspeter Mock por sua presença, destacando o simbolismo de seu primeiro evento no cargo estar ligado à área ambiental. Também agradeceu ao cônsul-geral Peter Hafner por ceder, mais uma vez, a residência consular para a realização do encontro, que tem se tornado um espaço tradicional para o debate sobre sustentabilidade entre as empresas suíças associadas.
Ana ressaltou a evolução do painel ao longo dos últimos quatro anos, tornando-se um evento âncora da SWISSCAM, impulsionado pelo crescente engajamento das empresas com a agenda ambiental. Ela destacou iniciativas como o Prêmio de Sustentabilidade, realizado em 2023 na Embaixada da Suíça, onde o Instituto Ekos Brasil desenvolveu a metodologia para avaliar as boas práticas empresariais, além das reuniões do programa Road to Belém, preparatórias para a COP30. Agradeceu também o apoio fundamental das empresas associadas ouro da câmara.
Ao contextualizar o painel, Ana apontou que o evento ocorre em um momento de grandes transformações globais, com o avanço de marcos regulatórios relacionados ao clima, desmatamento e direitos humanos, além de acordos comerciais como o EFTA-Mercosul. Segundo ela, o setor empresarial é cada vez mais chamado a assumir protagonismo, não apenas por exigências externas, mas como parte estrutural de suas estratégias de negócio. O painel, intitulado Desafios Globais para Práticas Empresariais e o Mundo em Transformação, foi construído com base nos pilares da Swiss-Brazilian Academy, uma parceria entre o Instituto Ekos Brasil e a Universidade de St. Gallen, com apoio da Embaixada Suíça, com foco em empresas. Os pilares dessa iniciativa são: estratégia climática corporativa; conservação socioambiental e biodiversidade; direitos humanos no contexto empresarial; e condutas corporativas responsáveis e avaliação de boas práticas.
Renata Amaral, Sócia do Trench Rossi Watanabe, parceiro do programa Compromisso com o Clima, abriu as discussões destacando que, apesar do cenário global de instabilidade política e econômica, as empresas brasileiras mantêm firme o compromisso com suas metas de sustentabilidade e diversidade. Ela refutou a ideia de que “o ESG morreu”, afirmando que as organizações estão aproveitando a desaceleração regulatória internacional para se fortalecer internamente e “fazer o dever de casa”. Segundo Renata, esse período tem servido para aprofundar processos de due diligence, revisar contratos e cláusulas ambientais, aprimorar certificações e preparar evidências que comprovem o cumprimento de compromissos climáticos e sociais. Ela lembrou que, mesmo durante a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, o setor privado manteve suas metas inalteradas, demonstrando que a sustentabilidade corporativa não depende exclusivamente de políticas governamentais.
Na segunda parte de sua fala, Renata abordou os desafios jurídicos e estruturais que dificultam a expansão de projetos ambientais no Brasil. Mencionou que investidores estão mais cautelosos e exigem viabilidade econômica em iniciativas de carbono, biodiversidade e floresta, o que leva a análises de risco mais conservadoras. Ela apontou entraves como a ausência de incentivos tributários à agricultura regenerativa, a falta de regulação sobre o consentimento livre e prévio de comunidades tradicionais e indígenas, e os graves problemas fundiários que afetam a segurança jurídica de projetos. Segundo Renata, é urgente que o governo brasileiro defina protocolos claros sobre o que constitui uma área regular e estabeleça previsibilidade normativa. “A inovação anda de mãos dadas com o risco”, concluiu, reforçando que o amadurecimento do mercado sustentável depende tanto de estabilidade jurídica quanto de coragem para enfrentar essas lacunas estruturais.
Em seguida, Cláudia Marconi, Professora de Relações Internacionais na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, apresentou o Centro de Excelência Jean Monnet em Empresas e Direitos Humanos, iniciativa cofinanciada pela União Europeia e pioneira no Sul Global. O centro reúne professores, pesquisadores e profissionais brasileiros e europeus em uma rede de cooperação voltada à formação de lideranças em sustentabilidade e direitos humanos corporativos. O projeto atua em duas frentes: formação acadêmica, por meio de intercâmbio de alunos e docentes, e capacitação de profissionais do setor privado, em parceria com o Instituto Ethos. Segundo Cláudia, o objetivo é transversalizar o tema de direitos humanos nas estruturas empresariais e educacionais, tornando-o parte essencial das decisões estratégicas e currículos de negócios.
Rafaela Mesquita, Especialista em Talento & Cultura na Zurich Seguros, destacou a importância de dar mais visibilidade ao pilar social do ESG, frequentemente ofuscado pelas discussões sobre meio ambiente e governança. Ela explicou que a Zurich possui uma cultura global voltada ao impacto positivo, estruturada em quatro compromissos: com clientes, parceiros, colaboradores e o planeta. Segundo Rafaela, o foco social começa dentro da empresa, com políticas de diversidade, equidade de gênero e educação corporativa. A companhia oferece ensino de inglês, apoio à graduação e pós-graduação para colaboradores, e adota metas de inclusão – 70% das promoções no último ano foram destinadas a mulheres, e 75% das vagas abertas foram preenchidas por talentos internos. Ela também destacou a importância de equilibrar saúde mental e financeira para garantir bem-estar e produtividade no ambiente de trabalho.
Rafaela apresentou ainda projetos externos de impacto social, como o Florestas Zurich, em parceria com o Instituto Terra de Sebastião Salgado, que atua na recuperação da Mata Atlântica; a cooperação com a BRK Ambiental, levando acesso à água e saneamento básico a comunidades do Tocantins; e o Papo Cabeça, iniciativa de apoio à saúde mental de jovens. A executiva ressaltou também o apoio da Zurich à Parada LGBT+ e aos programas de letramento digital voltados à inclusão tecnológica de pessoas em situação de vulnerabilidade. Em sua intervenção final, ela refletiu sobre o conceito de inovação, afirmando que, mais do que criar novos produtos, é preciso investir em educação financeira para ampliar o acesso da população a serviços de proteção e seguros.
Representando o setor financeiro, Frederic de Mariz, Head de Sustentabilidade para América Latina e Head de Argentina para o UBS BB, enfatizou que sustentabilidade é uma pauta de negócios, não de marketing. Ele alertou para os riscos de greenwashing e destacou o papel de auditorias e certificações independentes na credibilidade do mercado. Frederic explicou que o mercado de dívida sustentável no Brasil já representa cerca de 15% do total das emissões, percentual significativamente superior ao dos Estados Unidos, onde esse índice foi de apenas 3% no último ano. Ele considerou esse dado um sinal positivo, indicando que o Brasil neste aspecto está mais próximo da Europa, que está em torno de 25%. Segundo ele, os executivos brasileiros demonstram uma preocupação crescente com governança, responsabilidade social e ambiental, evidenciando que no país o social e o ambiental caminham juntos nas estratégias empresariais.
Frederic afirmou que o Brasil é um dos grandes inovadores na área de regulação, destacando que o Banco Central brasileiro foi um dos primeiros a incluir testes de estresse que incorporam a temática ambiental, ainda em 2014, antes de vários outros países. Mencionou também que o IFRS será implementado no Brasil, que, embora não seja o primeiro, está entre os países na liderança desse processo. Como terceiro ponto, Frederic citou o mercado de carbono, em que o Brasil aprovou uma lei em dezembro do ano passado. Ele disse que gostaria que o país já tivesse um mercado pujante de carbono, mas que isso “vai acontecer”.
Carolina Carregaro, Diretora de Assuntos Públicos da Nestlé Brasil, iniciou sua fala destacando a dimensão global e a responsabilidade proporcional da empresa em temas de sustentabilidade. Explicou que a Nestlé atua em mais de 180 países, com quase 300 mil colaboradores e cerca de 500 mil produtores, sendo o Brasil um mercado relevante, com 18 fábricas, 20 mil colaboradores e 10 mil produtores. Carolina citou três grandes desafios globais que orientam as estratégias da empresa: mudança climática, geração de resíduos e perda da biodiversidade, e descreveu iniciativas voltadas à descarbonização, com meta de neutralidade até 2050, e à transição energética com uso de biometano, energia solar e eólica. Destacou também o compromisso com embalagens 100% recicláveis, o apoio a 8 mil catadores no Brasil e a liderança da Nestlé como uma das maiores recicladoras do país.
Carolina também abordou a integração entre sustentabilidade, regulação e políticas públicas, ressaltando que cerca de 70% das emissões da empresa vêm do campo e que 90% do que chega à mesa do consumidor tem origem agrícola. Ela descreveu o trabalho com produtores de café, cacau e leite, baseado em indicadores de solo, biodiversidade e recursos hídricos, e explicou a parceria de longa data com a Embrapa para adaptar práticas à realidade da agricultura tropical. Comentou ainda os desafios regulatórios que envolvem o uso de plásticos reciclados em contato com alimentos, relatando o diálogo com a Anvisa que levou à aprovação de novas normas, embora ainda falte desenvolver tecnologia nacional para substituir importações.
Heiko Spitzeck, Professor na área de sustentabilidade e Gerente do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral, iniciou sua fala classificando as empresas em três níveis de maturidade em sustentabilidade: as que ainda não se engajaram, as que atuam apenas na gestão de risco e as que inovam de forma estratégica. Ele criticou o predomínio do discurso baseado no risco que, segundo ele, vem da Europa e torna o tema desmotivador. Heiko defendeu que o Brasil tem um empresariado genuinamente engajado em usar o negócio como força positiva, citando exemplos como o Sicredi, que desenvolveu linhas de crédito voltadas à energia solar.
O professor também afirmou que o problema central do Brasil é social, não climático, e que a desigualdade precisa ser enfrentada para que a sustentabilidade seja efetiva. Ele relatou experiências de programas com executivos na Amazônia, mostrando como a geração de renda sustentável é essencial para evitar o desmatamento. Defendeu que o país precisa promover um diálogo entre iguais, no qual empresas estrangeiras também aprendam com as práticas locais. Heiko elogiou o posicionamento de companhias brasileiras como a Gerdau, que se antecipam às novas legislações e buscam certificações internacionais, mas observou que a maioria ainda adota uma postura reativa, fazendo apenas o mínimo exigido.
Vanessa Boanada Fuchs, Diretora do Institute of Management in Latin America da Universidade de St. Gallen, encerrou o painel destacando a questão do engajamento multi-stakeholder, que muitas empresas já compreenderam como necessário não apenas para garantir uma cadeia de valor confiável, mas também para cumprir exigências normativas e deixar um impacto positivo no meio ambiente.
Ela também chamou atenção para a importância da participação em via de mão dupla entre empresas e poder público. Segundo Vanessa, o Brasil enfrenta questões estruturais, como a questão fundiária, que precisam ser discutidas tanto internamente nas organizações quanto em diálogo com a sociedade e as autoridades. Explicou que o país possui uma miríade de formas de uso e propriedade da terra, muitas vezes desconhecida por legisladores europeus, e que as empresas estão bem posicionadas para fazer essa tradução e atuar como pontes entre as imposições das novas diretivas e acordos internacionais e a realidade brasileira.
Por fim, Ana Moeri e Vanessa Boanada apresentaram a Swiss-Brazilian Academy, uma nova iniciativa criada a partir da colaboração entre o Instituto Ekos Brasil e a Universidade de St. Gallen, com apoio da Embaixada da Suíça. O projeto surge como um desdobramento do Prêmio Suíço de Sustentabilidade e Inovação, realizado em 2023, e agora ganha continuidade por meio de uma proposta de formação e cooperação permanente. Segundo Ana, o intuito da academia é criar um espaço para apoiar as empresas suíças e brasileiras em suas jornadas de sustentabilidade. Ela explicou que, ao longo do painel, ficou claro que há organizações em diferentes estágios de maturidade, e que a academia pretende justamente acompanhar, capacitar e conectar esses diferentes perfis, promovendo aprendizado mútuo e ações conjuntas voltadas à sustentabilidade corporativa.
O primeiro passo da iniciativa será a realização de um estudo diagnóstico, conduzido pelo Instituto Ekos, para avaliar o nível de maturidade das empresas brasileiras em sustentabilidade e identificar suas principais “dores”, desafios e oportunidades de avanço. Ana ressaltou que esse levantamento se baseará em metodologias já utilizadas pelo Instituto em projetos de descarbonização, avaliação socioambiental e redes empresariais colaborativas, como o programa Compromisso com o Clima. As informações coletadas servirão de base para a construção de um programa de formação adaptado à realidade local, garantindo que o conteúdo da academia seja prático e aplicável. Ela reforçou que os dados das empresas participantes serão mantidos em sigilo e utilizados apenas para fins de pesquisa e planejamento da academia.
Em seguida, Vanessa apresentou a contribuição da Universidade de St. Gallen, uma das instituições europeias mais reconhecidas nas áreas de negócios, e que tem trabalho o tema sustentabilidade de forma transversal em todas as suas escolas. A universidade trará à academia uma abordagem voltada ao engajamento de stakeholders, governança adaptativa e práticas ESG de maneira holística. Vanessa explicou que a proposta da Swiss-Brazilian Academy é ser um espaço de diálogo intersetorial, reunindo empresas, academia e terceiro setor para construir, de maneira conjunta, um currículo inovador “de baixo para cima” (bottom-up), ou seja, elaborado a partir das experiências reais, desafios e boas práticas das empresas brasileiras, e não apenas das normas ou exigências regulatórias impostas “de cima para baixo”.
A academia será estruturada em quatro módulos intensivos distribuídos ao longo de um ano letivo, com atividades híbridas, para contemplar a participação de empresas de diferentes regiões do Brasil. Haverá um encontra presencial em um retiro de três dias, dedicado exclusivamente à implementação prática dos projetos desenvolvidos pelos participantes. Segundo Vanessa, o aprendizado será contínuo e aplicado: o objetivo é que cada turma gere projetos concretos, mensuráveis e com impacto real, capazes de fortalecer a cultura de sustentabilidade dentro das organizações e de inspirar novas formas de colaboração empresarial.
Além disso, o programa prevê momentos de troca entre empresas, por meio de uma rede de aprendizado entre pares (peer learning), permitindo que as participantes compartilhem desafios, soluções e oportunidades de cooperação como, por exemplo, projetos conjuntos de educação financeira. A primeira fase do estudo começou em agosto de 2025 e deverá ser concluída até novembro, com o lançamento oficial da Swiss-Brazilian Academy previsto para a COP 30, em Belém do Pará, com apoio da Swissnex e da Embaixada da Suíça. A primeira turma será iniciada em fevereiro de 2026, com atividades até outubro do mesmo ano.
A iniciativa busca tornar perene o diálogo entre empresas e instituições. Prevê ainda a criação de uma rede de ex-alunos (Alumni), para que os participantes troquem experiências e deem continuidade à cooperação. “A ideia é que a Academia não forme só uma geração, mas forme gerações de novos líderes e que essas gerações permaneçam em contato”, afirmou Vanessa.
Agradecemos a todos que estiveram presentes, ao Consulado-Geral da Suíça em São Paulo pela parceria na realização deste evento e aos associados Ouro que são nossos apoiadores, assim como aos presentes ofertados pela Logitech e Nestlé.