No dia 11 de novembro, o Comitê de Inovação da SWISSCAM, coordenado por Marcelo Veras, organizou a segunda edição do Swiss Innovation Day em espaço gentilmente cedido pela Nestlé.
Ainda há um debate mundial sobre o que torna uma empresa inovadora. Afinal, quais ingredientes são necessários para se ter uma cultura inovadora? Conheça cada um deles a seguir, apresentados por nossos oito experts convidados.
1º ingrediente: Convicção e mindset
Wellington Santos, Gerente de Vendas & Marketing da Lemo América Latina
Formado em engenharia elétrica pela UNIVAP e MBA em gestão empresarial pela UNITAU, com especializações de Marketing Digital pela Universidade de Illinois/EUA e Design Thinking/Inovação pela Universidade de Virginia/EUA. Na LEMO, lidera o “Go to the market” na América Latina, com casos de sucesso em diferentes segmentos de mercados, como áudio & vídeo profissional, aeronáutico, médico-hospitalar e outros, sempre tendo a inovação como chave para o sucesso nas operações da empresa.
“Pensar criativamente porém sem capacidade de execução é como ter um bom carro sem gasolina.” Para ilustrar sua fala, Wellington comparou a inovação com um carro de fórmula I, onde o combustível que o faz andar é a convicção. Comunicar com convicção pode salvar uma ideia inovadora. Ela reduz o impacto do medo nas tomadas de decisões. O pensamento inovador requer: mindset, skillset e toolset.
Líderes com convicção inspiram o time. Assim se sucedeu com o fundador da Lemo, Léon Mouttet, que com a invenção do Push-Pull, resolveu os problemas de desconexão de cabos nas centrais telefônicas da Suíça, tornando-se um padrão mundial para toda a indústria eletroeletrônica até os dias de hoje.
2º ingrediente: Agenda Futuro e Tendências
Malin Borg, CEO da Swissnex Brazil
Possui mestrado em Relações Internacionais do The Graduate Institute, em Genebra, e graduação na Universidade de St Andrews, Reino Unido. Como CEO da Swissnex in Brazil, sua missão é de apoiar agentes nas áreas da educação, pesquisa e inovação com parcerias entre a Suíça e o Brasil.
Tendências são fatores externos que têm um impacto no nosso trabalho, como por exemplo questões sociais e ambientais. Malin ressaltou a importância de estar a par destas tendências e de ter um mindset voltado a pensar no que vem no futuro e não se prender no que já foi feito. O que está por vir pode ter um impacto direto e talvez mudar o modelo de negócios.
Enfatizou também a aplicação destes conceitos dentro da empresa. Presos na rotina atribulada do dia a dia, às vezes não reservamos tempo suficiente para pensar sobre o que está acontecendo fora da nossa caixinha. A Swissnex organiza momentos de aprendizado trazendo assuntos que em princípio nada tem a ver com o negócio, mas que no futuro podem impactar nosso trabalho. Também promove a conexão entre pessoas de diferentes departamentos e especialidades, assim como entre startups e empresas, além do meio acadêmico. Citou como exemplo o projeto Curacycle realizado em parceria com a Curaprox, onde um workshop reuniu designers, artistas, engenheiros para pensar em soluções sustentáveis para as escovas de dente. “Se juntar cientistas com artistas, alguma coisa muito interessante pode surgir”.
3º ingrediente: Atração e Retenção de Profissionais Inovadores
Daniel Pedrozo, Head de Inovação Seeds na Syngenta
Formado em Sistemas de Informação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, possui MBA em Liderança, Inovação e Gestão 3.0 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, além de cursos em Transformação Digital pela Boston Questrom School of Business (BUx) e Inovação pelas Universidades Singularity e Stanford.
A Syngenta reconhece que o seu maior fator de sucesso são as pessoas. E é com esse intuito que busca cada vez mais ser uma empresa reconhecida por elas, onde possam se sentir representadas, empoderadas, em um ambiente seguro, podendo escalar o seu propósito. Sendo uma empresa centralizada no cliente, portanto, apoia o seu time a se sentir como os seus clientes. O lema da Syngenta é: Somos todos produtores!
Daniel apresentou a realidade virtual como uma ferramenta útil de treinamento, que permite escalar o acesso e proporcionar aprendizado de forma mais rápida, além de compreender complexidades e aumentar a interação com os processos, meios e desafios da empresa.
4º ingrediente: ETI – Equipe Transversal de Inovação
Adriana Delafina de Oliveira, Gerente de Pessoas & Gestão da CVH – Cooperativa Veiling Holambra
Pós-graduada em Administração com ênfase em Marketing, MBA em Finanças e Gestão de Pessoas e Liderança na Inovação MIT. É Conselheira TrendsInnovation, Pós-MBA TrendsInovation, Master Neurobusiness e Master Coach. Atua como responsável pela gestão do Plano Estratégico empresarial da Cooperativa, alinhando cultura e estratégias organizacionais, onde está à frente também do Sistema de Gestão Integrada.
Em uma equipe transversal, um complementa o outro. Quais competências são necessárias para contribuir em uma equipe transversal? Autoconhecimento, empatia, curiosidade e experimentação.
O processo de cocriação em uma ETI envolve os seguintes passos, que fazem com que os membros da equipe se sintam mais à vontade para contribuir: causa justa (qual o propósito); confiar no processo; sem julgamento (toda fala deve ser considerada); equipe de confiança; flexibilidade existencial (abrir o olhar e saber ceder das suas próprias convicções); competidores dignos (um com o outro e não um contra o outro); coragem para liderar e deixar o seu legado.
5º ingrediente: Processo de Inovação
Marcelo Veras, Presidente do Grupo Unità Educacional
Graduado em Engenharia Química (Universidade Federal de Uberlândia), com Pós-Graduação em Gestão de Produção (Universidade Federal de Santa Maria), MBA Executivo em Marketing (ESPM). MBA Executivo em Gestão de Negócios (ESAMC). Pós MBA em Finanças (Inova Business School). Conselheiro TrendsInnovation certificado (Inova Business School). Master em Negócios de Plataforma (MIT). Certificação em Ambidestria Corporativa (Inova Business School). Sócio e membro do conselho do Ecossistema Inova. Sócio e membro do conselho da Comunidade “Educadores Inovadores”.
O processo de inovação é a ferramenta que faz os demais ingredientes acontecerem. Em seus mais de 30 anos de carreira, inclusive passando por corporações, Marcelo refletiu sobre algumas experiências que passou, onde ainda existe um paradigma equivocado de que ao detentor da ideia inovadora só cabe a recompensa financeira, sem qualquer protagonismo na história. O que se percebe é que quando estes ingredientes todos começam a agir em conjunto, é ativado o que o filósofo Pierre Lévy chama de inteligência coletiva.
A filosofia tem ganhado importância na gestão, apesar de já ter sido explorada em 1980 pelo filósofo Robert Freeman no capitalismo de stakeholders, onde se reconhece que uma empresa só vai ter longevidade se trabalhar todos os grupos de interesse. A escola clássica não tem registro deste formato em colaboração. Ensinava-se que o líder deve ser onisciente, onipresente e onipotente, que não pode dizer que não sabe. Entretanto, como Marcelo demonstrou com exemplos de grandes lideranças, assumir a vulnerabilidade traz união e engajamento das equipes. Outro termo que não há registro na escola clássica é “transformar”. Ela nos ensinou a nos apaixonar pelos produtos e pelo negócio, quando o que se constata agora é que devemos nos apaixonar pelo contexto. Se o contexto mudar, mudamos o modelo de negócios. Marcelo deixa a dica: “Não tem nada a ver com tecnologia. Se tem uma equipe transversal, se tem alguém liderando o processo, não é necessário ferramenta alguma”.
6º ingrediente: Recursos para Inovação
Diego Araujo, Diretor de Marketing na Hilti
Graduado em Economia, possui MBA Executivo no Insper e Master em Negócios Internacionais pela Hult International Business School (Boston).
A Hilti investe mais de CHF 10 milhões anuais em cultura corporativa e aproximadamente 6% do seu faturamento em Pesquisa & Desenvolvimento. Em média, 60 novos produtos/serviços são lançados anualmente. A empresa possui centros de inovação e tech offices na Europa, Ásia e na América do Norte.
Diego mencionou também a grande quantidade de startups na área da construção civil, as “construtechs”, porém é preciso decidir por onde seguir e investir. Para isso, foram definidas 3 tendências para trabalhar a longo prazo: a primeira é um desafio geracional, em que menos pessoas se interessam em trabalhar na construção civil e mais no mundo digital, daí a importância em investir em tecnologia e produtividade e atrair talentos. A outra macrotendência é a segurança, que inclui a adoção de vestimentas inteligentes como os
exoesqueletos, que ajudam a reduzir a tensão e a fadiga, e o robô para perfuração móvel semiautônoma de tetos, que auxilia em tarefas sobre cabeça, repetitivas e fisicamente muito exigentes. E por última a questão da sustentabilidade, com redução de emissões de CO2. Pelo segundo ano consecutivo, a Hilti conquistou a certificação Gold da agência internacional EcoVadis.
7º ingrediente: Ambiente Inovador
Izabel Azevedo, Diretora de Talento & Cultura na Nestlé
Administradora de empresas com MBA em Recursos Humanos e Pós-Graduação em Responsabilidade Social. Executiva de Recursos Humanos com carreira sólida de 20 anos em empresa multinacional de grande porte. Coach credenciada pelo ICF – International Coaching Federation e certificada em HBDI – Herrmann Brain Dominance Instrument Assessment.
Entre os vários prêmios que a Nestlé ganhou recentemente, Izabel destacou o Prêmio Valor Inovação Brasil 2022 como empresa mais inovadora no ranking geral e no setor de alimentos e bebidas, além dos prêmios de empresas mais atrativas para se trabalhar, como resultado do excelente clima organizacional, conforme demonstraram os números da pesquisa de clima da empresa apresentada pela painelista.
Os espaços de trabalho na Nestlé refletem a cultura de empresa e promovem a inovação e bem-estar. No prédio onde fica localizada a sede da Nestlé em São Paulo, existe um espaço chamado Panela House, onde colaboradores, startups, universidades e parceiros se encontram para criar. Há espaços inclusivos, que garantem a acessibilidade, e espaços de bem-estar para uma pausa no trabalho. Os pets são bem-vindos todos os dias no escritório. Para a força de vendas espalhada pelo Brasil, há espaços de coworking onde os times se conectam. Além disso, o Centro de Inovação da Nestlé em São José dos Campos não poderia deixar de ser mencionado.
Izabel contou sobre um projeto chamado People Match que surgiu após a experiência que passaram durante a pandemia, onde muitos colaboradores que trabalhavam em loja foram realocados para outras funções. Na ocasião foram identificados vários talentos e a ideia foi ampliada englobando qualquer colaborador que queira participar de projetos fora de sua área, integrando times de forma eficiente, por meio de um app.
8º ingrediente: Liderança Inovadora
Luiz Serafim, Head de Marketing, Digital, E-commerce & Insights da 3M do Brasil
Administrador de empresas (EAESP/FGV-SP) e publicitário (ECA-USP), pós-graduado em administração com ênfase em marketing (EAESP/FGV-SP) e com especialização em desenvolvimento do potencial humano (PUCCAMP). É professor de Gestão de Marketing e Inovação nos cursos de MBA da Inova Business School, Fundace USP Ribeirão Preto, faculdade ESAMC/Campinas, e AmCham Campinas.
Em toda empresa, sempre tem alguém apaixonado pelo que faz tentando resolver problemas ou identificar oportunidades, a despeito de todas as barreiras. Mas se tratam de ações pontuais e irregulares. É necessária uma abordagem sistêmica para se ter uma empresa realmente inovadora, que se reinventa ao longo do tempo. Diante de todos os recursos e tecnologias apresentadas, tem uma alavanca que é fundamental para este sistema funcionar: liderança. Sem líderes comprometidos no alto escalão, não há transformação. Mas além deles, todos os demais líderes nos seus respectivos setores devem ser desenvolvidos para influenciar o ambiente. Desenvolvimento de conhecimento, segurança psicológica e dar autonomia são elementos importantes nesta construção.
Outro ponto é a colaboração: cocriar com outras áreas, com startups, universidades, fornecedores etc. Sobre o papel do líder, Luiz avisa: “Ele não precisa conceber a ideia inovadora, mas precisa orquestrar todo este universo”. E finaliza com a questão ética: o líder deve se atentar ao respeito entre as pessoas, o respeito ao planeta e aos clientes, promovendo uma inovação sustentável e ética.
Após as apresentações, foi realizada uma dinânima de conexão entre os participantes, que puderam trocar dicas e conhecimentos sobre os oito ingredientes.
Fotos: SWISSCAM