No dia 7 de outubro, a SWISSCAM realizou a 5ª edição do evento sobre Diversidade & Inclusão, uma iniciativa do Comitê de Recursos Humanos, que teve como tema a “Promoção da equidade racial no mercado de trabalho”. Após dois anos no formato remoto, comemoramos a volta do evento presencial oferecendo um café da manhã cortesia aos associados.
A coordenadora do Comitê de Recursos Humanos, Maria Lúcia Menezes Gadotti, fez a abertura e moderação do evento, trazendo o depoimento de sua tocante história pessoal com raízes africanas e que reflete a realidade do conflito racial no país.
A primeira painelista foi Rute Passos, advogada na Philip Morris Brasil (PMB), Mestre em Direitos Humanos e Doutoranda em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. Rute lembrou que o Brasil foi o último país a abolir a escravatura. Fez ainda um comparativo com a representatividade das mulheres no mercado de trabalho, cujo ambiente tempos atrás era majoritariamente masculino. No longo caminho que levou as mulheres à conquista destes espaços e ao engajamento das empresas na promoção de cargos de liderança, houve muita discussão. Na mesma medida, é preciso discutir a diversidade e inclusão racial. Enquanto nós avançamos na diversidade de gênero, observamos que no caso da mulher negra, a representatividade é muito menor. Quanto mais marcadores sociais são adicionados (exemplo: mulher negra trans), maior a vulnerabilidade e menor a representatividade nos ambientes relevantes da sociedade, tanto privado quanto público.
Atuante nos projetos de Pro Bono e Diversidade e Inclusão Racial da PMB, Rute apresentou as diversas iniciativas da empresa, como a frente de comunicação que visa a dar visibilidade ao tema, conscientizar quanto ao viés inconsciente, aos termos pejorativos, entre outros, de forma que o ambiente não seja violento, mas sim acolha o colaborador. Também são realizadas jornadas de discussões e sensibilização dos demais colaboradores para repudiar comportamentos racistas. Outra iniciativa é o censo que está em andamento na empresa. Há um trabalho de letramento com a liderança, pois não tem como falar sobre o propósito e as boas intenções sem alinhar à estratégia do negócio. Além disso, a Philip Morris desenvolveu uma cláusula de compromissos sociais em todos os seus contratos.
A segunda painelista Débora Paiva é Mestre em marketing estratégico pela Cranfield University-UK e Fundadora do Ubuntu Labs. Atuou no Brasil e no exterior no marketing de empresas como Roche, Philips, Deloitte e Elsevier. Foi eleita uma das pessoas negras mais inovadoras em healthcare pela Forbes Brasil. Débora contou sua trajetória profissional em cargos de liderança e os obstáculos que enfrentou, inclusive pela questão de gênero. Como exemplo, citou que, por vezes, para negociar e fechar contratos, precisava levar um homem da sua equipe junto com ela.
Apesar de o cenário ainda mostrar que os ambientes das empresas, conforme apontado pela pesquisadora Cida Bento, são homogêneos, masculinos e brancos, também existem as oportunidades. Larry Flink, CEO da BlackRock, uma das maiores empresas de fundos de investimentos do mundo, em sua carta anual deste ano diz: “Teremos que endereçar a questão da equidade racial”. Google anunciou que investirá R$ 8,5 milhões em startups lideradas por pessoas negras.
Nos 3 anos em que vem atuando com diversidade na área de mineração, Débora constatou que empresas mais diversas identificam 67% menos lesões, 28% menos falta, 11% de aumento na entrega de resultados. Ou seja, o custo operacional da mineração diminui quando você tem equipes mais diversas. O principal viés inconsciente que impacta na hora da contratação é a questão da afinidade. Tendemos a nos aproximar de quem é igual a nós. Acerca da meritocracia, não podemos dizer que estamos todos no mesmo barco. Débora alerta que estamos no mesmo oceano, mas cada um com um transporte diferente ou nenhum transporte. Daí a importância de cada um se informar e promover a equidade.
Denise Carmo, terceira painelista, é gerente da Jornada do Paciente na Roche, formada em Jornalismo e em Turismo. Lembrou o início da sua trajetória profissional em que era a única mulher negra no seu meio, em um estado com a maioria da população negra, a Bahia. Quando entrou na Roche, que possui uma estratégia global de diversidade e inclusão, tornou-se membro do Coletivo AFA, frente de diversidade focada na promoção da equidade racial dentro da empresa, e atualmente é sua líder, contando atualmente com 150 membros. Ações de letramento são realizadas em grandes eventos, mas também de forma individual ou setorizada. Destacou a ocasião em que a presidenta da Geledés – Instituto da Mulher Negra esteve na empresa para falar sobre a estrutura do racismo no país e também o encontro memorável com a Dra. Fernanda Bairros, que falou sobre a saúde da população negra no Brasil.
O grupo faz curadoria de artigos, publicações, criou uma biblioteca com literatura afro e disponibilizou um curso virtual da Djamila. Além disso, foi feito um trabalho junto ao departamento de comunicação da empresa, uma vez que os pacientes ilustrados nas peças
publicitárias não refletiam a realidade brasileira, sobretudo o paciente do SUS, para o qual a Roche trabalha majoritariamente. Com relação aos processos seletivos, Denise reforça a importância de olhar o perfil do candidato como um todo, e não apenas títulos e diplomas, pois isto a Roche ajuda a construir. Citou por exemplo que é oferecido curso de idioma gratuitamente a todos os funcionários.
Falar sobre diversidade e inclusão é um trabalho para o ano inteiro, como nos eventos “Senta que lá vem o AFA”. Denise finaliza “Não queremos falar disso só no dia 20 de novembro [Dia da Consciência Negra]. A gente quer celebrar as nossas conquistas no dia 20 de novembro.”
Os últimos painelistas foram Reinaldo Bulgarelli e Jader Nicolau Júnior. Reinaldo é fundador e sócio-diretor da Txai Consultoria e Educação, empresa criada para atuar na área de sustentabilidade e responsabilidade social empresarial, com forte atuação em diversidade, equidade e inclusão. Recebeu o Prêmio África-Brasil em 2007 pela realização de ações afirmativas no campo das relações raciais e diversidade. Ajudou a criar os indicadores do Instituto Ethos. É secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTQIA+, que inclusive prioriza pessoas negras. Mencionou uma pesquisa do Instituto Ethos com as 500 maiores empresas que constatou 95% de brancos em cargos executivos e 5% de pessoas negras. Destes últimos, apenas 0,4% de mulheres negras.
Jader é fundador do site Portal Afro, Fundador da ONG Instituto Portal Afro, jornalista, Repórter Fotográfico e Video Maker. Profissional especializado em cultura negra, com um acervo de documentos, fotos, e dados de pesquisas diversas, referentes aos negros. Ilustrou sua apresentação com algumas de suas fotos da Suíça para inspirar e lembrar que não somos pessoas limitadas. Temos o poder de influenciar o ambiente onde estamos com nossos pensamentos e energia. Que cada um possa realizar sua parte na construção de ambientes mais justos e inclusivos.
Fotos: Carol Luz